Devido à pandemia, armou-se um ringue na cabeça de muitos. A saúde de calção branco troca socos com a economia com calção no vermelho tendo juízes morais pontuando os golpes mais sentidos.
Na luta pela vida, pontos são perdidos numa visão de indignidade humana por pensar: deixemos tudo acontecer naturalmente, é um ineditismo etiopatogênico com muitas dúvidas sobre a fisiopatologia carente de tratamento e de prevenção pela medicina organizada, com manifestações clínicas possíveis de serem cuidadas com a competência profissional disponível e se por um lado qualquer nível de letalidade é lamentável, por outro, não há como não se conformar com uma taxa resultante de doença. Um pensamento intolerável com a consistência do que se costuma lutar pela vida em pleno século XXI e, além de tudo, que provoca o sentido de arrogância dos excessos de racionalidade.
Assim, resignar-se aos terríveis efeitos de uma doença nova fica nocauteado no primeiro round na Covid-19 e abarca conjecturas de mistanásia. Afinal, Covid-19 não é doença de uma coorte limitada de pacientes. Toda a nação está sujeita como transmissor ou reator a condutas sem certezas de efetividade e sob bombardeio de má notícias comunicadas à margem das habitualidades da relação médico-paciente. Fulano testou positivo parece ter ganho isenção do compromisso do sigilo profissional.
A Bioética da Beira do leito entende que não parece indevida uma comparação com perdas de vida por acidente ou homicídio. É notícia e, por isso, enquadra-se num paradoxo entre inesperado e esperável. É sabido como muitos brasileiros dizem ao sair de casa que receiam não voltar devido à violência social. Transmutou-se numa toxicidade (vírus tem origem em toxina) por contágio. Lacunas técnicas – origem, transmissão, sintomas, danos, sequelas no caso do novo coronavírus- costumam ser preenchidas pelo leigo com analogia e imaginação, um par que tende a compor maus presságios que as máscaras não evitam.