PUBLICAÇÕES DESDE 2014

912- MMXX (Parte 13)

2020

A pandemia requer condutas de abrangência coletiva. Serão sempre remédios amargos, discutíveis sob vários ângulos e impossíveis de evitar sensações de constrangimento e discursos inflamados.

A límpida transparência acerca da pertinência e da qualidade é essencial não somente para a apreciação das potencialidades de efeitos, como também para o acompanhamento crítico dos resultados.  

As incertezas teóricas e as evoluções dos fatos e dados combinadas às reações plurais – biológica, racional e emocional- da condição humana induzem a mentalizar a figura de uma régua. Suas calibrações marcam pressupostos de relação entre o jeito de fazer (eficiência), o alcance do resultado (eficácia) e a repercussão (efetividade). Em tese, entre início e fim da pandemia, várias calibragens podem admitir justificativas com movimentações, inclusive, em vaivém. Ética, moral e legal resultam atarefadas e necessitadas de lidar com as múltiplas potencialidades reativas da condição humana. 

Esta régua ideada facilita percorrer possibilidades de aproximações e de distanciamentos das repercussões na sáude, no social, na economia. Há uma acentuação das vulnerabilidades individuais e coletivas e as tensões decorrentes exigem o máximo da capacitação humana e dos recursos acumulados em tempos não pandêmicos para limitar as adversidades em meio às carências de certezas sobre o manejo da interação comportamento-qualidade de vida-sobrevida.     

Os dois extremos da régua são: 1- Propósito de deixar a virose acontecer naturalmente com uma pitada de darwinismo e aguardar a imunidade coletiva pressupondo maior brevidade da epidemia; 2- Forte restrição ao contágio entre a população priorizando as realidades de uma insuficiente capacidade de atenção do sistema de saúde a simultaneidades de casos.  Certamente, duas pontas com terríveis e desafiadoras repercussões. Lembram Woody Allen (nascido em 1935): life is divided into the horrible and the miserable.

 

No primeiro extremo, o conhecimento do que aconteceu no mundo congela a ideia nas origens. No outro extremo, o instinto de sobrevivência – individual e coletivo – cria as forças de adoção. Mas, sempre tem um mas, o isolamento físico/social preservativo do contágio deve ser entendido como um remédio em seu amplo sentido e, como tal, tem uma bula onde não faltam adversidades cujas interpretações pessoais ficam anestesiadas pelo estado de calamidade pública.

Nenhum extremo costuma ser bom e cada posição mais liberal ou mais restritiva na escala da régua está sujeita a projeções longe de consenso. A Bioética da Beira do leito interessa-se pela apreciação sempre complexa dos prós e dos contras das calibragens.

As complexidades decorrem das representatividades dos valores envolvidos – leia-se da orientação de objetivos- em cada comportamento na escala. Indecisões são justificáveis e figuram movimentos pendulares sobre as divisões da régua. Todos pretendem a mesma proteção biológica contra o sofrimento e a perda da vida – no sentido literal e figurado- pela Covid-19, mas enfoques individuais distribuem-se numa gama de possibilidades atitudinais influenciada pelo feedback entre efeitos e motivações e com prazos de validade para certas suportações. O ser humano é gregário, uma necessidade que determina habilidades em contante renovação. Há uma provocação de momento para a criatividade, para o bom senso e, especialmente para a tecnociência em nível global.

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