Vozes fortes ecoam três temores: ficar doente, remorso pelo relaxamento pessoal, culpa por se tornar o vetor de próximos – é péssima a sensação de dar carona ao vírus como um Aedes aegypti ou ser um Caim para irmãos. Ondas de recomendações energizam pertencer a um efeito manada – um comportamento homogêneo de anti-contágio confiando na melhor escolha pelas autoridades- que se sobressai entre pensamentos hesitantes.
Manada, rebanho, confinamento, é aí que o bicho pega e a liberdade fecha as asas sobre nós. O comportamento de se isolar procura a dissociação da aterrorizante previsão do acúmulo de doentes graves além da capacidade de atenção hospitalar do sistema de saúde. Ninguém deve estar sujeito à mistanásia.
Situações de desproporção entre demanda e capacidade de atendimento pelo SUS sempre existiram e as filas de espera cumprem uma função de organização social para os transbordamentos das concentrações em serviços, clínicas e hospitais. Uma maneira de gerir densidade populacional e competição pelos recursos disponíveis para a saúde, em meio a grande progresso tecnológico, que o tempo fez com que a sociedade com ela se conformasse.
O tipo não-presencial de fila tornou-se um verdadeiro sistema social visando à cooperação adaptativa desmotivadora de conflitos que se caracteriza por certa invisibilibilidade da progressão pelo paciente como ocorre no tipo presencial.
Numa enorme rede de agendamentos, configurações de filas de espera se diferenciaram. Significâncias distintas sobre o tempo de espera alinhadas a sofrimento e a prognóstico motivaram o desenvolvimento de critérios clínicos de prioridade para ajustes a necessidades dos níveis de gravidade dos casos. Uma ordenação não fixa ocorre nas filas de transplantes de órgãos, por exemplo. Mudanças do status de procedimento eletivo para urgência/emergência forçam a visibilidade prioritária e preferencial.
A Bioética da Beira do leito interessa-se pelos aspectos gerais envolvidos numa fila de espera na áera da saúde, particularmente sobre a conjugação entre poder, interação social e justiça distributiva.
A insubordinada pandemia tornou todos nós classificados como suas prioridades. Em decorrência, a rede de filas de espera do sistema de saúde como que se evaporou. Uma evaporação que forma nuvens que devolverão o conteúdo. As precipitações poderão ser pesadas.
