A vida futura tornou-se ameaçada por uma irônica participação dos nossos órgãos dos sentido. De repente, o quinteto da visão, da audição, do paladar, do olfato e do tato adquiriu maior interesse pela população.
Desenvolveu-se uma sensação de cavalo de Troia nas mãos perante as portas do nariz, boca (língua) e olhos. Um aproveitamento não consensual de nosso inter-relacionamento com o exterior pelo novo coronavírus que, literalmente, é muito sentido. Os ouvidos passaram a ser bombardeados com o único tema da pandemia. A perda do olfato (anosmia) e do paladar (ageusia) ascenderam a sintomas da Covid-19.
Enquanto não se atinge o último capítulo da pandemia, idealmente, numa universal vacinação segura e em massa – que, espera-se, faça esquecer definitivamente o potencial imaginário anti-vacinação suscitado por Andrew Wakefield (nascido em 1963)-, muitas intenções de verdades com propósitos positivos acontecem muito embora sob contágios virulentos de distorções interpretativas.
Como as verdades se confundem com fake news, tornam-se quebradiças em meio à modernidade líquida e sofrem desvalorizações pela pós-verdade, há vantagem na expectativa de fatos positivos protegidos pelo poder da tecnociência.
Atribui-se ao filósofo belga Gilbert Hottois (1946-2019) a criação do termo tecnociência que contém a associação de recursos teóricos pela ciência para o desenvolvimento tecnológico, a busca da verdade pela ciência e da utulidade pela tecnologia, e que evoluiu para a concepção que a tecnologia também gera ciência, ou seja, há forte reciprocidade entre ambos, ou seja pesquisa teórica e pesquisa prática de mãos dadas aprimorando-se indissociadas no termo tecnociência.
A Bioética da Beira do leito reconhece a notória capacidade da tecnociência para reconhecer o funcionamento de estruturas e expor pormenores vantajosos, o modo competente para observar, pesquisar, reduzir incertezas, clarificar, qualificar, selecionar evidências, fundamentar e validar. As muitas pistas clínicas entusiasmadas requerem a comedida validação pela ciência investigativa. Um olhar crítico sobre os significados de tempo quantitativo e de tempo qualitativo.
Percorrendo assim abrigado o caminho das pedras, publicações científicas e não científicas sérias já colecionaram altíssima densidade do encalço da tecnociência à pluralidade necrofílica do novo coronavírus. Um recorde sobre um mono tema num semestre. É vulcão em erupção lançando por uma cratera aberta ao mundo expansões esperançosas e limitações frustrantes. O positivo é que as emissões sob pressão proporcionam imprescindível tempo qualitativo ao exíguo tempo quantitativo das esperanças.