3834

PUBLICAÇÕES DESDE 2014

892- Espinhos (Parte 2)

Apreciações sobre inter-relações entre benefício e malefício em coesão num método ganham proveito pedagógico na parábola acerca do segundo mal – no caso a adversidade em relação à doença como primeiro mal-, formulada por Arthur Schopenhauer (1788-1860):Porcespinho

“… Em um gelado dia de inverno, os membros da sociedade de porcos-espinhos se juntaram para obter calor e não morrer de frio. Mas logo sentiram os espinhos dos outros e tiveram de tomar distância. Quando a necessidade de se aquecerem os fez voltarem a juntar-se, se repetiu aquele segundo mal, e assim se viram entre ambas as desgraças, até que encontraram um distanciamento moderado que lhes permitia passar o melhor possível…”.

As analogias do frio com a doença, da terapêutica com a obtenção do calor, do espinho com a reação adversa e da participação ativa do médico prescritor com “voltarem a juntar” conectam-se com o efeito bula

De quebra, articulam-se com a noção que só deve ser prescrito o de fato útil e eficaz para a circunstância clínica, pois qualquer método “inocente” tem sua diferença maléfica. No meu livro Iatrogenia, a Medicina e o médico, a ênfase editorial é a sustentabilidade do fazer o bem clínico melhor para o paciente.Iatrogenia

A parábola de Schopenhauer serve ademais para sustentar explicações do porque pacientes dispensam o exercício do direito à autonomia, pelo menos no aspecto macro da recomendação, fundamentados por um senso de laços de crédito/familiaridade/segurança no médico/instituição.

A minha experiência num Serviço setorizado- Unidade Clínica de Valvopatia – no InCor reforça que, em geral, quando o paciente sente-se membro de uma comunidade – todos interligados pela necessidade igual do “calor” terapêutico específico-, há redução da individuação dos “espinhos”. Facilita ao médico transferir para os pacientes assim agrupados sua proposição de beneficência embora sem dispensar referências ao pontiagudo dos espinhos. É interessante como a sala de espera do ambulatório constrói uma identidade de grupo, vale dizer, uma reverberação das explicações e aproximação ao modo médico de pensar.

Na rotina da indicação cirúrgica da valvopatia pelo Serviço, a orientação dominante era o médico cumprir uma função de bula e dar uma visão panorâmica do por vir, necessário e possível, objetivando construir um distanciamento mental moderado das contraposições do bem e do mal.

COMPARTILHE JÁ

Compartilhar no Facebook
Compartilhar no Twitter
Compartilhar no LinkedIn
Compartilhar no Telegram
Compartilhar no WhatsApp
Compartilhar no E-mail

COMENTÁRIOS

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

POSTS SIMILARES

fev0 Posts
mar0 Posts
abr0 Posts
maio0 Posts
jun0 Posts
jul0 Posts
ago0 Posts
set0 Posts
out0 Posts
nov0 Posts
dez0 Posts
jan0 Posts
fev0 Posts
mar0 Posts
abr0 Posts
maio0 Posts
jun0 Posts
jul0 Posts
ago0 Posts

fev0 Posts
mar0 Posts
abr0 Posts
maio0 Posts
jun0 Posts
jul0 Posts
ago0 Posts
set0 Posts
out0 Posts
nov0 Posts
dez0 Posts
jan0 Posts
fev0 Posts
mar0 Posts
abr0 Posts
maio0 Posts
jun0 Posts
jul0 Posts
ago0 Posts