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PUBLICAÇÕES DESDE 2014

889- A Rainha vermelha (Parte 1)

Bioamigo, um provérbio inglês  diz Write down the advice of him who loves you, though you like it not at present. Em meu concurso para professor-livre docente em Clínica Médica na FMUSP, o orientador Professor Luiz Décourt (1911-2007) aconselhou-me a incluir conceitos de outros campos da medicina no tema da dissertação, qualquer que ele fosse. Lembro-me que o ponto sorteado foi o número 11 -Glomerulonefrite Difusa Aguda- e eu discorri sobre outros aspectos não nefrológicos conforme orientado.

No caso, utilizei o conselho imediatamente e o adotei como rotina. Afirmo que está sendo de grande valia na militância em Bioética provocar-me errante por  saberes variados, conceder-me vistos de entrada por fronteiras obscuras, correr atrás do que é possível alcançar e produzir ilações com Bioética. Perante tantas incertezas e relativismos contemporâneos que caem no colo da Bioética, para nos considerarmos razoavelmente preparados, habilitados a ultrapassar obstáculos multiformes, inovar/renovar /provocar é preciso! Os desafios transmutam-se em oportunidades de resolver na prática, aprender em serviço e encorpar a teoria.

Afinal, a militância em Bioética permite perceber que a busca pelo (mais) racional exige lidar com o que escapa à razão. De fato, na beira do leito não basta cumprir o É vedado ao médico do Código de Ética Médica, pois a condição humana está cheia de arbítrios e arbitrariedades. A Bioética da Beira do leito enfatiza que a beira do leito é naturalmente sede de pontos de partida distintos entre a verdade da ciência e o valor da vontade. Por isso, acumula conflitos, casos complexos, onde as representações e as interpretações requerem uma expansão panorâmica de percepções, aplicação de teorias de distintas origens e boa linguagem interativa com o objetivo de ampliar os ângulos de visão  sobre o equacionamento de conflitos. A biodiversidade que interessa a Bioética tem razões que a própria razão desconhece e é no aprofundamento que o misterioso vai se revelando.

Transdisciplinaridade é termo contemporâneo à Bioética de Van Rensselaer Potter (1911-2001) forjado por Jean William Fritz Piaget (1896-1980). Traz vantagens exponenciais para desdobramentos das complexidades indo ao encontro dos objetivos de promover uma unidade do conhecimento alinhando elementos que se situam entre, além e através das disciplinas. Todavia, requer habilidade para que o relacionamento entre as disciplinas seja coerente e integrativo – para fortalecer-  sem distorcer singularidades originais – o que fragilizaria. Entendo como um saudável exercício cognitivo que se ajusta qual o trabalho de um alfaiate, por exemplo, para o referente à beira do leito por suas formas plurais que constantemente ficam mal vestidas – leia-se em conflitos- pelo prêt-à-porter convencional.

Nas minhas andanças forasteiras por textos inspiradores, tropeço em ideias de várias fontes do saber que provocam convidativas analogias com contextos da Bioética. A transdisciplinaridade e a física quântica, por exemplo, socorreram-se para organizar os fundamentos da Bioética da Beira do leito. Com alguma frequência artigos do blog são sustentados por conhecimentos “estrangeiro” assimilados. É estimulante e absolutamente necessário para a minha dedicação à Bioética.

A composição de outros saberes à Bioética coopera para a humanização das ciências da saúde na medida em que reúne conhecimentos até então por nós desconhecidos e pensamentos de muitos outros permitindo assim nos estendermos além de nossas estreitezas. É estímulo que reconhece possibilidades e testa limites, contribui para eclodir um  potencial que fica contido pela dedicação à rotina profissional e formar uma rede de proteção – para si e para o paciente- mais eficaz. É inspiração para novas identificações que faz da Bioética um ponto de observação de mais “árvores na floresta”, suas copas e suas raízes. A abrangência e a profundidade que facilitam medicina e ciências da saúde em geral a representarem sabedoria moral. É responsabilidade com novos encontros, com inter-relacionamentos úteis, uma ansiedade por mergulhos para conhecer a extensa parte submersa do iceberg. O prazer de mergulhar faz o máximo aproveitamento da lei da gravidade ao nos colocar com os “pés no chão”, motiva ao equilíbrio humano de uma gangorra e exercita a imaginação como se estivéssemos frente a um mímico.

De certa forma, coaduna-se com o conjunto da Bioética principialista no sentido dos limites. A transdisciplinaridade amplia a beneficência por expansão do conhecimento do mundo, resguarda a não maleficência  pelo melhor entendimento das fontes de malefício e faz entender o modo adaptativo de pacientes verem como benefício/não malefício um pretenso bem/não mal.

Tropecei na Rainha Vermelha, passei a saber que existe uma hipótese da Rainha Vermelha, que ela tem adeptos e críticos. Interessei-me, é tão fácil abrir uma aba no Google e pesquisar… Tenho certeza de ter lido Alice no País do Espelho de Lewis Carrol (Charles Lutwidge Dodgson, 1832-1898) na adolescência, mas não me lembrava da personagem, ilustrada como uma peça de xadrez.

Continua na Parte 2O que é Rainha Vermelha? - Rainha Vermelha

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