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838- Talvez e bom senso na ética da beira do leito (Parte 7)

Em cenários de talvezes constituídos pela emissão do médico sobre a medicina, o nível de reação do paciente aos assim chamados esclarecimentos costuma ser função das decodificações sobre as incertezas que desenvolve com ou sem a participação de circunstantes.

Cabe, pois, a metáfora do camaleão, algo como uma espontaneidade que é modulada por necessidades na circunstância. A manifestação do consentimento inclui, pois, a possibilidade de um exercício de autotolerância pelo paciente, ou seja, ele aceitar para si o que ele próprio poderia recusar, renunciar a valores e preferências e se responsabilizar por isso livremente com a consciência, tudo em nome da confiança nos esclarecimentos.

Escutar o médico antes de se manifestar provoca no paciente um constructo (construção mental que combina elementos do passado e do presente) onde em muitos casos as adversidades em potencial ganham dominância. Embora nunca vivenciadas de fato,  a antecipação mental faz  soar o alarme de perigo à vista.

A prevalência da ideia de dano traz uma conotação da teoria da epistemologia evolutiva de David Hume (1771-1776), em que conhecimentos articulam-se com a teoria da seleção natural darwiniana (Charles Darwin, 1809-1882). Hábitos de pensamento como um instinto natural processariam predições sofre efeitos de impactos, uma sabedoria sobre sobrevivência.

Ah! pode causar reação alérgica, sei o que é isso. Na verdade, o paciente não sabe, nunca viu, mas como a palavra é familiar  vira compreendida.

Cenários de posições, acordos e desacordos com o habitual desnível de saberes – que não mais admitem extremos de onisciência (pela extensão e profundidade dos temas) e de ignorância total (maior acesso à informação) – adequações e inadequações individualizadas, motiva-me bioamigo, com todo respeito, a forçar os traços qual caricatura que transmite a comunicação pelo exagero.

Considerando que nada está de fato determinado (de-terminado) no momento da tomada de decisão, ouso delinear que talvezes justificam trazer para a beira do leito a concepção do Ulisses atado ao mastro do navio para evitar as sereias. Se navegar é preciso rumo ao benefício, por isso, as amarras de Ulisses simbolizam que Ulissesapenas a cera nos ouvidos não cabe porque é necessário ter o conhecimento das adversidades.

Por isso, o que cabe é a união ao médico, a confiança que a recomendação é cientificamente válida e suficiente para justificar que o consentimento está sendo manifesto de modo livre. Alinha-se ao livre-arbítrio tanto na sua interpretação que o ser humano é capaz de fazer qualquer escolha possível diante de qualquer situação, quanto no condicionamento do ser humano a fazer suas escolhas a partir do seu self.

4Esta mistura de mitologia grega, René Descates (1596-1650) e Baruch Spinoza (1632-1677) na beira do leito traz fundamentos para Bioética da Beira do leito argumentar que no desejo da travessia terapêutica, o paciente decidido prossegue com o crédito que os desafios serão enfrentados de modo conectado, médico e paciente – e infra-estrutura- irmanados pelo princípio fundamental II do Código de Ética Médica vigente: O alvo de toda a atenção do médico é a saúde do ser humano, em benefício da qual deverá agir com o máximo de zelo e o melhor de sua capacidade profissional.

Ademais, na minha experiência no InCor, ambiguidades e contraposições por embaralhamentos de compreensão  podem ser  causados por situações onde o médico esclarece no piloto automático, expressa-se de modo padronizado para um paciente habitualmente carente de vivências de habilidades na área da saúde. É momento do valor da imagem institucional de confiança construída por seus profissionais beneficiada pela transdisciplinaridade possibilitada pela organização multiprofissionalinerente ao ambiente. Faz parte do conjunto que evita que o acúmulo de resíduos de talvezes crie calombos no caminho e possibilitam tropeços adiante.

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