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829- Competência comunicativa na residência médica

Instituto de Ortopedia e Traumatologia - HC/IOT
Pioneirismo em Residência Médica no Brasil Década de 40

WSHResidente de medicina, chame um mestre em comunicação e o instrua sobre o que deseja que ele esclareça ao paciente para obter o consentimento. Como o comunicador não conhece medicina – nem o paciente- tenderá ao fracasso.

Residente de medicina, inscreva-se num curso de comunicação para adquirir métodos eficientes para esclarecer e sustentar o consentimento pelos pacientes. Pouco provável de acontecer dada à carência de disponibilidade de tempo para não falar da habitual percepção de baixa importância prática.

A bem da verdade, nunca ouvi uma supervisão da residência médica sugerir as duas situações para amenizar os primórdios inquietantes dos vínculos com os pacientes. Mencionei apenas para efeito didático acerca de boas idéias natimortas.

Na prática, no chamado mundo real que inspirou Hipócrates (460 ac- 370 ac) a resgatar a medicina dos deuses, o residente de medicina tem mesmo é de expandir a capacitação de se comunicar pré-profissional, pegando carona no interesse e na consciência das dificuldades e exercitando repetições paciente a paciente. O residente de medicina desde cedo deve perceber que só possuirá o que recebeu, o que transformou, o que vivenciou pelo próprio esforços e pela ajuda de outros.

O alcance do que cabe em cada comunicação falada ao paciente é favorecido pela persistência, pela autocrítica e pelo sentido de observação dos efeitos. Como o título de uma aula inesquecível do professor de clínica médica Clementino Fraga Filho (1917-2016) no terceiro ano da faculdade, 1964: No instante com o paciente seja sincero com ele e consigo. A vivência na beira do leito mostrou-me que o verdadeiro na sinceridade e na comunicação ética compartilha mesmo vocabulário e certos conflitos entre dizer tudo que pensa e pensar antes de  dizer. A palavra emitida é qual pasta de dente,  não tem tem como voltar para de onde saiu.

O residente de medicina na ambição de aprender e reaprender, habitualmente, hierarquiza a incorporação do saber tecnocientífico, mas os impactos de uma boa residência não deixam escapar da intenção profissional expressar-se ao leigo em diversificadas situações de comunicação interpessoal, o que contribui para estabelecer confiança. Uma iluminação do compromisso de se aproximar, ele próprio e o paciente da melhor medicina aplicável, vale dizer conferir valor humano a etiopatogenias/fisiopatologias/métodos terapêuticos. Justifica, pois, o residente de medicina esmerar-se em estratégias de uso de recursos verbais – palavras e frases curtas, preferência a afirmações- e de recursos não verbais – timing, linguagens do corpo, da face e dos gestos. Voz e imagem fazem uma dupla rica na conexão médico-paciente, exposição tradicional no presencial, mas que ganha valor no não presencial contemporâneo.

Na beira do leito, a formação do residente de medicina exige prescrever-se doses eficazes de composição das mensagens esclarecedoras, desafios à clareza, à simplificação, à objetividade, à fundamentação tecnocientífica suficiente, à polidez e a níveis de relevância, sempre atento e reativo a sinais sobre a recepção do emitido. Vale muito em função da mão dupla de interação desenvolver o senso de ouvir-se falar e de ouvir-se ouvir que contribuem para o comedimento na emissão e para a evitação da dispersão de atenção por ocasião dos diálogos com os pacientes.

Particularizando nos esclarecimentos ao paciente para o objetivo do consentimento, é essencial ter o domínio tecnocientífico da recomendação, ajustar o foco da mensagem e considerar as circunstâncias. As explicações podem por um lado representar a atenção ético-legal ao direito ao Não pelo paciente – proteção ao vulnerável contra abusos- e por outro lado a vontade de criar oportunidades pró-Sim. Em outras palavras, uma visão em antolhos focando no direito ao Não reverte para o burocrático termo de consentimento que o documento se tornou antecedendo à aplicação, enquanto que uma plataforma de comunicação sobre potenciais benefícios e malefícios estabelecida ao longo do atendimento – horizontalidade- favorece o pró-Sim. 

Apenas de passagem, a excelência nas habilidades a serem desenvolvidas inclui os limites na comunicação com terceiros sobre o paciente, interpretação de cenários coadjuvantes em função da responsabilidade ética com sigilo/intimidade/privacidade.

O residente de medicina é, pois, em geral, um autodidata em comunicação na beira do leito que forja sucessivas versões melhoradas de si próprio dispondo do que colecionou na vida pré-profissional, da observação de colegas mais experientes- uma geração educa a outra- e dos vaivéns do cotidiano. É autodidatismo que pode ser representado como três figuras de linguagem:3caracter

  1. Memória fotográfica dos fatos dos pacientes, espontâneos e reativos, com especial atenção para detalhes das expressões pessoais;
  2. Olhar de lince para a apreensão de peculiaridades do caráter multiétnico e pluricultural do Brasil;
  3. Efeito camaleão no maior grau possível de conforto e alinhamento da sua identidade pessoal e profissional com o ambiente de trabalho.

A Bioética da Beira do leito considera a residência médica dada a sua missão de ensino de pós-graduação sob a forma de curso de especialização é período da formação profissional propício para a modelação de um estilo comunicativo simples, direto e objetivo.

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