Um Comitê de Bioética aberto às interfaces mutáveis e dinâmicas da saúde como um bem maior coopera para a moralidade do ecossistema de uma instituição de saúde.
A tradição, a inovação e a novidade das ciências da saúde constituem matéria prima dos temas com graus diferenciados de complexidade tratados por um Comitê de Bioética. São infinitas composições demandando análises e sínteses alinhadas com a ética, a moral e o legal a respeito de rotinas e conflitos de relacionamento.
A Bioética da Beira do leito mentaliza três abordagens sobre os pilares da organização de um Comitê de Bioética:
- Transdisciplinaridade: O Comitê de Bioética beneficia-se do sentido do prefixo “trans”, pelo saber e sabedoria que é disposto entre, através e além das competências profissionais atendendo às complexidades da área da saúde exigentes da pluralidade de interpretações. A tensão entre um par de contraditórios, por exemplo, motiva uma interação de informações e esclarecimentos próprios das disciplinas disponibilizadas – dentro e fora das ciências da saúde- que canaliza para um horizonte ampliado de opções resolutivas.
As contribuições disciplinares permitem alargar o alcance interpretativo das demandas e o bom como A e o mau como não-A – como par de contraditórios- sofrem um alargamento da moldura inclusiva que passa a abrigar fundamentos para uma harmonização numa terceira qualificação (T) – razoável – com chance de ser exercitada pelas partes em contradição.
- Comunidades de interpretação: O Comitê de Bioética é formado por membros de comunidades de interpretação – grupos de indivíduos que compartilham pontos de vista sustentados por experiências organizadas- e pelo conjunto torna-se uma própria comunidade de interpretação para a instituição a que pertence e aprecia demandas de outras comunidades de interpretação, por exemplo, as ligadas aos pacientes. A multiplicidade profissional assim composta reage às demandas como profissionais que pensam e atuam com propósitos voltados para Bioética, contudo sensíveis aos modos de interpretação de suas origens comunitárias.
Desta maneira, criam-se formatações de interpretação, práticas e padrões alinhados aos objetivos de uma comunidade bioética. As comunidades de interpretação individuais constituintes da comunidade de interpretação coletiva da bioética são ligadas- – médicos, enfermeiros, psicólogos, fisioterapeutas, assistentes sociais, gestores- ou não- advogados, teólogos, comunicadores- à área da saúde.
A movimentação de interpretações e reinterpretações energiza a interconexão de comunidades individuais, um feedback que permite apreciar as solicitações de maneira abrangente, aprofundada e equilibrada, inclusive com destaques caso a caso da competência de certa(s) comunidade(s) de interpretação. Como se vê, transdisciplinaridade e comunidades de interpretação aplicam-se com analogias a um Comitê de Bioética.
- Teoria Geral dos Sistemas: O Comitê de Bioética é um sistema aberto já que interage com flexibilidade de fronteiras numa instituição de saúde com profissionais integrantes interdependentes e com objetivos a alcançar, sucessivas demandas onde predomina o conflituoso. O sistema do Comitê de Bioética é formado por outras unidades de sistemas, ou seja, seu funcionamento reúne um conjunto de representantes de fontes específicas de saber e sabedoria.
O todo do Comitê de Bioética é maior do que a soma de suas partes e há um sentido de equilíbrio nas entrelinhas para o adequado alcance dos objetivos. A força ética, moral e legal do Comitê de Bioética, a capacidade de entender as entradas de demandas e de dar respostas é sustentada pela qualidade das unidades de sistema presentes, suas participações, agregações e contribuições especializadas segundo uma visão não reducionista, voltada para sínteses e com abertura sobre relações de causa e efeito entre os componentes das demandas. O amplo espectro da Teoria Geral dos Sistemas irmana com o apresentado para a Transdisciplinaridade e as Comunidades de interpretação.
A Bioética da Beira do leito entende que uma instituição de saúde precisa contar com o valor da Bioética para a sua saúde organizacional como apoio contemporâneo para o cuidado com as pessoas – colaboradores e usuários-, para deliberações sobre dilemas morais e para a promoção do ensino, pesquisa e consultoria sobre temas que provocam inquietações éticas, morais e legais, aliás, em crescimento vertiginoso na área da saúde.