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817- Uma letra, duas barras, cinco atributos da beira do leito (Parte 1)

Letra têO nosso alfabeto tem 26 letras. A letra T na sua forma de imprensa é uma das mais simples. Uma simplicidade que representa uma maneira de lidar com a complexidade. A barra horizontal simboliza a abrangência num tema e a barra vertical a profundidade, sendo importante a manutenção de uma estética entre ambas, caso contrário teríamos um traço pela carência de profundidade e um I pela carência de abrangência.

A Bioética da Beira do leito valoriza esta idealização por considerar que encontros médico-pacientes provocam expansões e revelam limitações de abrangência e de profundidade  a partir de pontos de referências como, por exemplo, a simples queixa de sintomas.

A responsabilidade profissional que é modelada pari-passu  com a vivência na beira do leito nutre-se da consciência  da luta contra as limitações ao lado das expansões. É clássico como uma anamnese bem construída determina uma tensão profissional que qual um rio – um encontro de água doce com a natureza- flui segundo condições preestabelecidas sob limites de margens desde a fonte até o destino, o oceano de água salgada do diagnóstico/tratamento/prognóstico.

Não faltam palavras começadas com a letra T para proporcionar fluidez à rotina ética em medicina, ciência e arte, na beira do leito. Selecionamos cinco: a) Tradição; b) Transgressão; c) Tenacidade; d) Transparência; e) Tolerância.

                                                                                        Tradição

Pin em TatooRefere-se a um conjunto de sistemas simbólicos que tem uma natureza repetitiva geração a geração, forte influência de orientação do passado. A tradição não é exatamente estática, ela presume um desde sempre de conceitos que se apresentam, idealmente, de modo sensível a incessantes inovações de vindouras gerações, contribuindo para vislumbrar dogmas e utopias. A confiança da sociedade na medicina e seus agentes morais é um dos sustentáculos da tradição em medicina. confianca-e-como-uma-borracha-fica-menor-a

Numa simplificação, o afastamento da participação dos deuses gregos por Hipócrates é ponto inicial da tradição da medicina desde e para o ser humano. Anamnese, exames físico e complementares, prescrição e aplicação de condutas terapêuticas e análise de prognóstico enfeixam séculos de herança cultural, enquanto que a forte valorização da evidência científica marca acréscimo contemporâneo ao caráter dinâmico da tradição na beira do leito.

Dado o caráter humano da missão na beira do leito e ao percurso ao longo de 26 séculos, a tradição na medicina  deve ser vista como suficientemente resistente para jamais perder valor no desenvolvimento do progresso diagnóstico, terapêutico e preventivo, assim influenciando a integração da inovação, especialmente da tecnológica, um dos interesses da Bioética.

Jovens médicos logo percebem como a beira do leito lida tradições que subsistiram ou evoluíram para adaptações face a novas opções beneficentes que passaram pelo filtro dos médicos mais experientes, snedo uma das características da experiência profissional a preocupação com possíveis inconveniências de roturas abruptas de subordinação à tradição no contexto do Princípio fundamental II – O alvo de toda a atenção do médico é a saúde do ser humano, em benefício da qual deverá agir com o máximo de zelo e o melhor de sua capacidade profissional. 

A prudência, preceito ético e virtude, é amálgama essencial na dinâmica remodeladora da tradição no exercício da medicina assistencial, de pesquisa e educativa. Aquela porta aberta para um retorno oportuno caso necessário por uma evolução indevida.

A pandemia do novo coronavírus ilustra como as exigências prementes da sociedade em geral por grandes passos preventivo-terapêuticos recebem forte visão de cautela emoldurada pela tradição da medicina por profissionais da saúde em nome beneficência/não maleficência – com destaque para o dogmático primum non nocere de 26 séculos,  substância conceitual da medicina, inquestionável no valor, questão obrigatória em reflexões sobre os limites entre (im)prudência e zelo (negligência).                                                                                  

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