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798- Pandemônio pandêmico (Parte 5)

covid-19

Estou idoso, uso medicamento que uns alegam ser cúmplice do micróbio e sou profissional da saúde em hospital. É impossível fugir do dilema entre chances de contato com o vírus e o simbolismo do juramento de Hipócrates.

Predomina a inquietação universal: Sou parte da cura ou sou parte da doença? (https://www.nejm.org/doi/pdf/10.1056/NEJMp2004768?articleTools=true). Presumo que Charles Robert Darwin (1809-1882) estaria motivado a pensar sobre analogias entre mutação de vírus e seleção natural e adaptação do ser humano.

O micróbio da dúvida é persuasivo! O tal do risco é complicado, ficou ainda mais claro que se chama risco porque é linha que separa prognósticos. Faz mergulhar na compreensão sobre certos não consentimentos de paciente na beira do leito em que há forte influência da opinião de familiares. Ameniza pensar que eu não estou na linha de frente dos atendimentos, que minha contribuição senior pode ser à distância, mas, a circunstância é sui-generis, porque não se trata apenas da saúde de um profissional, mas também da etiopatogenia que ele possa vir a ser. Os limites entre bom senso e privilégio são obscuros neste disputado jogo de xadrez onde os lances do micróbio precisam ter uma atenção especial sobre desdobramentos sobre os macróbios – cerca de 30 milhões de idosos no Brasil.   Piramide-etariaPentagono contaminação

Na prisão preventiva imposta para, de modo sui-generis, não se tornar culpado, atrás das grades da consciência, a população procura cavar um túnel mental para o ar livre – do micróbio. O excesso de falta do que fazer é etiopatogenia perigosa para a saúde mental.Como-funciona-a-prisão-domiciliar-768x479

Para este estado de vigília constante, o nosso idioma parece insuficiente para a intenção de escrever crônica sobre o que estamos forçados a acreditar que nos acontece. Atrevo-me a considerar que a ubiquidade do Sars-Cov-2 faz uma junção de pandemia com endemia.

Precisamos  nos preocupar com o transtorno do estresse pós-traumático ante tanta violência aos direitos humanos. Não vale racionalizar que estamos em férias, até porque não é possível viajar. Alguém comeu morcego – dizem- e o pesadelo pós-prandial é nosso. O radar do morcego veio junto.

Um dia, o Brasil estará de alta e nada será como antes… ou tudo será como antes, cada um vivenciará a sua maneira a volta ao futuro. Para a Bioética, não faltarão  pontos de referência. Relaciono abaixo vinte observações sobre o pandemônio pandêmico:

  1. Sem conhecer, é impossível ser e fazer;
  2. Crise demanda apoio e orientação;
  3. Não cabem segredos;
  4. Tudo necessita ser verdadeiro;
  5. Compartilhamentos sem fronteiras;
  6. A transdisciplinaridade é essencial;
  7. Aprender o que precisa ser aprendido tendo como fonte os que de fato sabem;
  8. Não acreditar em nenhuma orientação sem verificar a fonte;
  9. Saber falar não faz ser bem ouvido;
  10. Não basta informar, é preciso esclarecer;
  11. Menos autonomia, mais autômatos;
  12. Construção de nova experiência sobre alicerces existentes;
  13. Indeterminações da medicina são inevitáveis;
  14. Violência e escravidão sob termos elegantes;
  15. Na boa comunicação, tudo aceito de boa fé;
  16. Pensamentos e sentimentos em entrecruzamentos constantes;
  17. Avaliações de insensatez derrotadas por evidências do sensato;
  18. Muito tempo livre e presos;
  19. De repente, estamos outra pessoa;
  20. Nossa essência está em cativeiro.

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COMENTÁRIOS

Uma resposta

  1. Caro Professor Max,

    Também não sou mais menina, mas o ímpeto de me expor é grande! Conflito! Juramento de Hipócrates, , vontade de ter 20 anos a menos, mesmo sendo mãe de 2 filhos, com toda uma família prévia em outro estado, que me sinto “ a responsável” por ser a primogênita! Como essa linha entre ficar mais na retaguarda, orientando ,tratando os demais pacientes de outras patologias cardíacas como os nossos cardiopatas que estão apavorados, mas sem estar lá dentro na uti, coisa que sei ser apta, traz um aperto no coração ! Temos que sentir a nossa utilidade em todos os planos, pois as doenças prévias não pararam. Os infartos persistem , acredito que até aumentaram, pois no meu consultório que não fechei e ainda atendo por telemedicina aos acima de 65 anos para ter uma ideia se necessitam vir pessoalmente, em duas semanas, houve uma procura aumentada de mais de 50% seguindo-se de internações . Não é acaso! E a mente deflagrando! O estresse está na “lua”.
    Que o nosso Deus nos ajude a encontrar o melhor caminho. ( sou católica) . VFAP

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