A Bioética da Beira do leito dá ênfase ao período do atendimento que vai desde a queixa principal até a manifestação do paciente sobre as recomendações terapêuticas do médico. Na atualidade da conexão médico-paciente podemos considerá-lo um processo de consentimento.
Desde a verbalização inicial do seu mal, embutem-se desejos, preferências, valores e objetivos do paciente. Como se sabe, há pacientes que correm imediatamente para obter ajuda médica e há pacientes que relutam e adiam o mais possível. Pode-se dizer que neste intervalo de tempo em que o paciente não procura o médico quando já haveria razão para fazê-lo ocorre um não consentimento informal a suposições de condutas. Domina a presunção que haverá alguma providência médica que por ser indesejada internaliza um Não oculto, só o paciente sabe dele.
A partir do momento em que o paciente expressa-se para o médico, uma gangorra com Sim e Não do paciente em cada lado tende a oscilar a cada novo conhecimento/esclarecimento sobre o seu caso. Ainda na fase de diagnóstico, um sinal verde do paciente para a investigação pode se acompanhar de uma previsão não revelada de sinal vermelho para recomendações terapêuticas que já pressupõe. É possibilidade que vira incompletude e, porque não, desperdício.
O raciocínio clínico do médico segue uma lógica, há momentos indutivos em que ele vai de baixo para cima, do particular para o geral- por exemplo, dos sintomas, observações, para a hipótese de um CID- e há momentos dedutivos, em que ele vai de cima para baixo- por exemplo, a orientação de uma diretriz clínica ajustada a peculiaridades do caso. Em geral, mesclam-se induções e deduções no período do processo de consentimento que permeia definições diagnósticas e proposições terapêuticas.
A Bioética da Beira do leito entende que é vantajoso em nome da legitimidade do consentimento que as etapas do raciocínio clínico do médico sejam apresentadas ao paciente. Há quem critique a exposição de incertezas que agrava a ansiedade, que só deveria ser dito ao paciente comprovações com menos chances de serem provisórias. Entretanto, a transparência para o paciente proporcionada pelo compartilhamento inteligível com o raciocínio clínico do médico tem efeito salutar para a autenticidade no processo de consentimento.
Diálogos esclarecedores assim motivados energizam a movimentação da gangorra acima mencionada e com liberdade. Diríamos que quanto mais peso o paciente captar das palavras do médico, mais probabilidade de aproximar, literalmente, os pés no chão.
A Bioética da Beira do leito enxerga na palavra do médico comunicativa que acompanha este conceito de processo de consentimento desde a queixa até a recomendação terapêutica uma utilidade inequívoca para a preservação da ética na beira do leito. É a forma de evitar as lacunas de compreensão/aceitação a serem preenchidas pelo paciente com suposições em função do impacto, quer aposições, quer ampliações, quer restrições de variadas influências inclusive de natureza metafísica.
Cada médico tem, evidentemente, o seu estilo lapidado pelo cotidiano na beira do leito e sob influência da especialidade. Na presunção que a inteligência artificial tem um estilo seco de ponto final, a troca de palavras entre médico e paciente no dialeto da beira do leito representa vírgula, ponto e vírgula e travessão no período do processo de consentimento.