O médico aprende rápido que o mesmo território da beira do leito é habitado por saberes vivos- sujeitos a reexames- e por imortalizados, que, em conjunto, formam mixagens de autoria -um termo feminino.
O compartilhamento novo/antigo gera orgulho pelas contribuições, mas não alardeamento pelos resultados, qual mães que se orgulham do filho mas não ficam exaltando a sua doação educacional (há exceções).
Afora a condição de epônimo e citações a certos autores de grande influência histórica ou em ebulição recente, é pouco provável a lembrança da fonte de contribuição, algo como uma patente universal da medicina.
Se houvesse um diário global da beira do leito aberto por Hipócrates, ele conteria as histórias completas da medicina, dos médicos e dos pacientes. Na verdade, cada médico tem o seu diário profissional, muito particular, conteúdos escritos como prescrições de condutas ou, simplesmente, mentalizados.
Vivos e revividos unem-se legítimos no ecossistema da beira do leito, bióticos como profissionais da saúde e pacientes e abióticos como tecnologias, as clássicas como o termômetro clínico e as inovadoras como o acesso percutâneo a órgãos internos.
A Bioética da Beira do leito reconhece que os laços estreitos de caráter biográfico da beira do leito em seu amplo sentido, ultimamente constituem resistência a certos movimentos de contracultura hipocrática. Sem nostalgia e na rota de uma medicina beneficente/não maleficente/consentida.
A ênfase numa transdisciplinaridade característica da Bioética que respeita 26 séculos de história da medicina facilita lidar com a obsessão ética frente a divergências e polarizações.