Há algum tempo, insisto: diretrizes clínicas não são algemas que levam para onde pode não ser desejado. Digo que elas são bússolas, aliás, modernizei-me, passei a considerá-las como waze para destinos pretendidos.
As pessoas podem escolher usar ou não o waze e fazer ajustes a gosto. Diretrizes clínicas, contudo, estão cada vez mais impositivas para o exercício da medicina e interligadas a apreciações de natureza ética. De fato, críticas sobre prudência e zelo têm sido assim orientadas.
Diretrizes clínicas de alguma maneira consolidam novidades de diagnóstico, tratamento e prevenção e, em função das dúvidas habituais sobre o valor da transposição da pesquisa clínica para a beira do leito, elas são remédios para a saúde profissional do médico.
De modo mais específico, diretrizes clínicas atuam nos receptores éticos do médico como tranquilizantes. A sensação de dever (bem)cumprido pelo acatamento a um representante do estado da arte, além de uma gratificante troca do tempo quantitativo por tempo qualitativo. Cinco horas antigas em cinco minutos pós-modernos.
Há não muitas décadas, cada médico sustentava o cotidiano com o aprendido na faculdade, continuava os estudos nos chamados livros de texto, expandia-se com a ajuda dos colegas num serviço hospitalar, atualizava-se por artigos científicos em revistas e na plateia de um congresso.
O status quo hierarquiza as sociedades de especialidade como editor final do conhecimento validado e das recomendações devidamente classificadas quanto à dimensão de efeito e à probabilidade de certeza da realização.
Uma verificação com conotação moral das diretrizes clínicas é a presença das tabelas que resumem o que deve ser recomendado na condução do caso na ponta da língua, sem engolimento e metabolização das bases tecnocientificas que compõem o texto. As tabelas são waze bastante, o que significa que encolheu a profundidade do saber prescritivo.
Em decorrência, a apreciação crítica pessoal que acontecia no passado murchou e cedeu lugar para algo como: sigo fielmente diretrizes clínicas para não correr riscos de infração ética. O médico dá um like tácito e compartilha com o paciente. A racionalização inclui um comportamento combinado de prudência clínica, cautela pessoal bem temperada por gotas de medicina defensiva e pitadas de efeito manada. Um risco é o uso acrítico que substitui o que tem dado certo.
A boa notícia é que as diretrizes clínicas são majoritariamente de ótima qualidade e a Bioética cresce nos alertas sobre o valor dos ajustes individualizados.
Uma resposta
O reconhecido T bioético e os riscos de hipertrofia de um de seus braços frente às diretrizes.