BBL captou rapidamente que:
a) O acolhimento às vulnerabilidades do paciente, paradoxalmente, dá mais autenticidade a eventuais desconexões pelo não consentimento. Em outras palavras, a moralidade envolvida no (não) consentimento livre e esclarecido pelo paciente alinha-se à qualidade ética da conexão médico-paciente.
b) O conhecimento tecnocientífico articula-se a uma validação externa, enquanto que atitudes com pacientes e colegas devem passar por coadores pessoais ajustados ao próprio caráter.
c) Uma combinação de receptivo, investigativo e produtivo faz renascer a cada atendimento o fascínio pela medicina. BBL aprendeu o ponto para azeitar a submissão ao traço de autoritarismo da medicina, à exigência da simbiose medicina-médico-paciente em prol da espiral profissional ascendente, absolutamente necessária para o sentido de pertencimento e reconhecimento como fonte de orientação para a construção/preservação da identidade profissional. Em decorrência, BBL acostumou-se ao cotidiano embate entre conformidades exigidas (heteronômicas) e suas predisposições individuais para a liberdade e a individualidade (autonômicas). Lápis e borracha no desenho do estilo profissional, retratista interminável da beira do leito sempre em metamorfose.
d) A falta de descanso adequado ao comprometer o conceito da necessidade de um período refratário pós-atividades para evitar o espectro do burnout, traz, invariavelmente, fases de ambivalência quanto a interesses, estímulos de redução da autoestima, enfim, de perjúrios ao juramento de Hipócrates. Por vezes, BBL figurava suas oscilações de satisfação profissional como pendurada num pêndulo em movimento, outras vezes, via-se presa numa montanha-russa e até se entretinha mentalizando-se passageira de um trem fantasma, tendo uma surpresa a cada curva dos atendimentos.
e) O valor do equilíbrio entre as calidoscópicas exigências do relacionamento profissional e a sua singularidade como pessoa, para permitir superações. BBL sentiu que a preservação da integridade pessoal exigia misturar com colher ética no caldeirão fumegante do profissionalismo suas convicções peculiares, diretrizes, protocolos, editoriais, rotinas de serviços, códigos e normas.
f) Lidar com os desafios constantes para a autenticidade do ser médica (pessoa física e pessoa jurídica) incluía uma alternância inevitável entre momentos de domínio e de dominado no pentágono da beira do leito, que requerem a aplicação dos seus valores e princípios como imperativo de consciência. Aos poucos, um sentido de obediência irrestrita ao apresentado como parte obrigatória da liturgia da profissão passa a ser ajustado em nome de conselhos do bom senso lapidado pela observação crítica.
Por exemplo, BBL prefere a tradição da anotação detalhada em prontuário sobre o consentimento livre e esclarecido do paciente sem necessidade de nenhum documento específico. BBL discorda da orientação que parece já cristalizada para um termo escrito de consentimento livre e esclarecido assistencial, entendendo que traz, não somente os inconvenientes de excluir resoluções de dúvidas pela ausência de quem deveria fazer e uma decorrente burocratização, como também pressuposições que o anotado em prontuário possa não ter acontecido de fato, além de contribuir para alimentar a medicina defensiva.
Pelo valor condutor da formação moral que BBL dá à literatura infantil, na sua incessante busca do significado para sua vida profissional na fase em que se encontra, o amadurecimento proporcionado pelo pertencimento à beira do leito faz BBL rejeitar qualquer prática/insinuação de comportamento de Pinóquio e aderir ao representado pelo Grilo falante.
Você bioamigo se identifica com BBL?