O médico, em geral, não é neutro na sua exposição, ele tem suas preferências decisórias, mas sua rotina de esclarecimentos deve ser um descritivo imparcial. Um aspecto interveniente é que o significado do emitido pelo médico não necessariamente é o mesmo recepcionado pelo paciente. É uma vertente do conceito de esclarecimento acerca das necessidades e das possibilidades terapêuticas no processo de consentimento e que alerta para a integração entre a ciência e a conexão médico-paciente (triangulação entre médico-medicina-paciente). Considere-se que, atualmente, ciência e paciente têm canais diretos via internet A Bioética da Beira do leito opina que a rotina do médico ético no processo de tomada de decisão corresponde a um exercício de mediação entre a medicina e o paciente, idealmente, objetivando uma relação ganha-ganha. A mediação é fonte de acréscimo de valor, especialmente, quando promove a máxima abertura do leque de opções beneficentes de modo isento de induções.
Caso o médico, porventura, expresse a falta de neutralidade acima da imparcialidade em eletividades, o conceito de mediação compromete-se e sujeita-se às críticas da quebra da integralidade da comunicação desejável sobre medicina para o paciente e deste a respeito daquela a ser honrada por sua autoridade profissional e honestidade pessoal.
A vocalização de um Sim ou um Não no processo de consentimento pelo paciente pode ser classificado como um ato de liberdade e independência (relativa). Por ser um direito, ele pode ou não ser exercido. Um dos desdobramentos justificáveis pela condição humana, especialmente sob excesso de vulnerabilidade, é um pensamento vacilante que trava ou oscila as respostas Sim ou Não. Ele é causado por um sentido de segurança física e emocional e inclui o domínio de uma forte contraposição a adversidades possíveis, a mentalização de sofrimentos pós-intervenção temidos e a ansiedade eclodida na conjectura de um eventual posicionamento em desacordo com familiar. É contexto onde a linguagem corporal do paciente costuma fazer transparecer o interior do paciente mais do que uma voz ativa, mas que carece do poder de definir a resposta do paciente a ser registrada. Algo como ele quer, ele sabe que deveria consentir, mas não pode dizer Sim ou ele não quer, sabe que não deveria, mas não pode dizer Não.
A mediação tem sua pegadinha. Trata-se de uma das muitas armadilhas que a beira do leito pode colocar na conexão médico-paciente e que, além de exigirem clareza no reconhecimento, tem o dom da oportunidade para o desenvolvimento das habilidades cognitivas e da inteligência emocional de uso profissional. As pegadinhas costumam se referir a fatos iniciais do atendimento, a fins que estão sendo cogitados e a princípios profissionais a serem respeitados.
A pegadinha no caso da mediação insere-se em restrições ao contexto que subentende um jogo cooperativo, vale dizer, as partes devem cooperar ao máximo para um acordo mutuamente satisfatório, admitir ajustes e considerar que o relacionamento continuará após a tomada de decisão. É pegadinha que envolve princípios e objetivos referindo-se a manobras de flexibilidade. Elas são habitualmente necessárias para mediar, todavia, a ética médica impede exigir-se da medicina e, portanto, do médico, todo tipo de adaptação que poderia vir a dar equilíbrio aos eventuais desejos, preferências, objetivos e valores do paciente.
Como se sabe, a hipossuficiência do paciente em relação ao conhecimento da medicina não lhe impede um definitivo posicionamento opinativo clinicamente prejudicial que, por sua vez, caso configure uma exigência absurda de natureza tecncocientífica não deve se sobrepor aos imperativos de consciência do médico. É reforço ao exercício do paternalismo, o brando, um mútuo respeito!