Beira do leito – chama-se Beele- esperta aquela. Direta e clara Beele não compreende porque médicos provocam autoextinção pela irracionalidade de desvalorizar a anamnese e o exame físico do paciente, considerando-as algo como monstruosidades perda de tempo.
Beele nega que sua indignação é saudosismo, entende que é respeito à inteligência natural que tradicionalmente maneja, ser humano para ser humano, a medicina há séculos.
Ela comenta que a preservação da anamnese e do exame físico é reafirmação do marco zero ético de qualquer atendimento e que mantém o médico no controle da situação clínica, vale dizer, reduzindo os riscos de vir a ser controlado pela já presente inteligência artificial.
Na opinião de Beele, médicos parecem adoecer de degeneração profissional e necessitam urgente receber doses generosas de paciente sob sua efetiva responsabilidade infundidas na veia profissional para evitar a atrofia profissional, preservar a saúde de ser de fato o agente moral da medicina.
Segundo Beele, a naturalidade da anamnese e do exame físico – algo que aconteceu de modo espontâneo na história da medicina- não se choca com o utilitarismo das maravilhosas máquinas da tecnologia de informação e de comunicação. Pelo contrário, anamnese e exame físico têm o objetivo de preservar o sentido social e humano da medicina das revelações tecnológicas de grande impacto diagnóstico, terapêutico e preventivo.
Uma beira do leito não se aperfeiçoa livrando-se intempestivamente da tradição, assim como o médico não deve se fingir de muito douto às custas de um aprendizado de máquina. Seria, tão somente, um avental branco sonâmbulo na beira do leito com direito ao porte de 5 dos 6 C que hoje caracterizam o médico: crachá, caneta, carimbo, celular e computador. O sexto C sob risco é o cérebro pensante, dialógico, decisório e resolutivo.
Beele percebe que as gerações mais antigas de médico temem por uma visão premonitória de um futuro dominado pela inteligência artificial que conspira contra os símbolos maiores da conexão médico-medicina-paciente, vislumbram momentos distópicos pelo uso de algemas profissionais com forte atuação heteronômica e que reverteriam a imortalidade de Hipócrates (460 ac-370 ac).
Por outro lado, Beele verifica que gerações mais recentes parecem confiar num destino utópico da medicina a bordo da inteligência artificial, inflexivelmente diferente do que é atual e onde a eficácia terá licença para sobrepujar os mais sagrados valores humanos. Preocupante, especialmente por sugerir autoritarismo!
Beele não acredita que a medicina em seu progresso inevitável possa ser reorganizada para uma beneficência absoluta tudo sob medida mas sob risco de convicções temerárias para a ética e a moral, havendo a negação radical do atual que funciona, como, por exemplo a dupla anamnese e exame físico conduzida diligentemente pela inteligência natural. Anamnese e exame físico são necessariamente parte integrante de qualquer benefício da medicina personalizada e sustentada por máquinas maravilhosas.
Beele tem o integral apoio da Bioética da Beira do leito!