O segundo conjunto-guia da Bioética de todos nós inclui a Lógica do terceiro incluído (fundamento 4). Os métodos na medicina contemporânea contém invariavelmente pares de contraditórios, eles carregam o potencial de benefício e o potencial de malefício. É situação da beira do leito que conflita com a tradicional lógica do terceiro excluído, pela qual não há um elemento que contenha ao mesmo tempo A e não-A. Mas, a física quântica constatou que uma partícula pode ser ao mesmo tempo onda e corpúsculo e que, portanto, pode existir um terceiro elemento (T) que abrigue A e não-A simultaneamente (terceiro incluído). A Bioética de todos nós pega carona neste conhecimento para facilitar a compreensão que métodos em medicina têm potencialidades divergentes não excludentes, ou seja, é importante aplicar a Abertura para chances simultâneas de realização de benefício e de dano apesar do Rigor tecnocientífico.
Pode-se conseguir reduzir o risco de adversidades na aplicação do método, mas, ele nunca será eliminado. A Bioética de todos nós adota a metáfora do bastão de madeira como pedagogia para a lógica do terceiro incluído aplicado na beira do leito. Podemos mentalizar o método em medicina como o bastão e suas duas extremidades são a beneficência e a maleficência. Tentativas de cortar a extremidade da maleficência resultarão, invariavelmente, numa outra extremidade que faz persistir o risco de dano. Caso se prossiga na mentalização dos cortes, corre-se o risco de atingir e eliminar a extremidade beneficente- por exemplo, pretender menos chance de adversidade com dose sub-terapêutica. A analogia da lógica do terceiro incluído da física quântica para a beira do leito representa que o método é uma beneficência conceitual (corpúsculo que se integra como benefício) e um dano em trânsito (onda). Ademais, este comportamento é base para o dever da obtenção do consentimento pelo paciente como expressão do direito de ter voz ativa sobre a inclusão simultânea de potencialidades de bem e de dano.
Decorre, então, que, no processo de tomada de decisão devemos visualizar de modo simultâneo benefício e adversidade sob duas realidades clínicas, ou seja, mentalizar que uma realização boa pode passar para outra danosa- por exemplo, um até então benefício real torna-se uma terrível síndrome de Stevens (Albert Mason, 1884-1945)-Johnson (Frank Chambliss, 1894-1934). Fica claro, pois, que a Lógica do terceiro incluído precisa associar-se à mentalização da possibilidade de mais de um nível de realidade em tempos simultâneos. De novo vem a ajuda da física quântica pela noção de Níveis distintos de realidade ao mesmo tempo (fundamento 5). O termo realidade que é muito empregado na medicina é essencialmente ambíguo, admite a possibilidade de ser moldado e, portanto, a transdisciplinaridade é bem-vinda para permitir a compreensão que podemos estar praticando apenas um recorte do real, quando, por exemplo, definimos um diagnóstico. O progresso da medicina assim atesta quando a mesma designação de outrora de um tumor passa a comportar subdivisões por peculiaridades genéticas. Níveis distintos de realidade ao mesmo tempo aplica-se para um método, um medicamento ou um procedimento reversor, na medida em que ele oscila entre realizações multidimensionais sujeitas a diferentes níveis de percepção do valor, por exemplo, entre o médico e o paciente. Podemos exemplificar a oscilação entre potencial e realização, tanto com casos onde a adversidade domina o efeito, quanto com fármacos cujo entendimento inicial de adversidade tornou-se o benefício- minoxidil, sildenafil. Assim, não se pode falar em contradição de realidades nas potencialidades de métodos, mas, de uma dinâmica de oscilações por adições do que pode ser circunstancialmente realizado e por contensões do que não pode ser realizado na situação.
No desenvolvimento do pensamento crítico a bordo da flecha simbólica, há a realidade física que nossos olhos presenciam e há a realidade psíquica elaborada por dois componentes da cognição- memória e imaginação. A simultaneidade entre o realismo e a abstração é possibilitada pela experiência que interpreta o que está sendo presenciado à luz da memória de assemelhados e fornece matéria-prima para a imaginação vislumbrar possíveis evoluções. O raciocínio clínico de todos os dias em busca de realidades concretas é esta flecha de experiência profissional disparada desde a formatura até a aposentadoria que dá simultaneidade a passado, presente e futuro (distintas realidades qual o pretendido no mito da bola de cristal) e, assim, facilita lidar com relação risco/benefício e selecionar métodos cogitáveis como indicação, não indicação e contraindicação. Níveis distintos de realidade ao mesmo tempo e Lógica do terceiro incluído formam o segundo conjunto-guia da Bioética de todos nós com inspiração na transdisciplinaridade.