Primeiro o solilóquio: concluída a investigação diagnóstica, o Dr. JTH consultou a diretriz clínica, trocou ideias com a equipe, e após a análise dos prós e contras de opções terapêuticas considerando as individualidades do paciente chegou a uma recomendação de conduta terapêutica. Havia grande chance de influência positiva sobre a qualidade de vida do paciente e sobre a expectativa de anos de vida. Caso difícil que dispendeu uma quantidade de recursos humanos, materiais e financeiros que justificava o conceito de excelência do hospital. Sob a óptica profissional, tudo nos conformes ético, moral e legal.
Depois o diálogo: Na frente do paciente, nem relógio, nem mediquês, o médico fez os esclarecimentos de praxe, iniciou com um resumo sobre a doença, assinalou o potencial de benefício da conduta que estava sendo recomendada e detalhou as chances de benefícios e eventos adversos da conduta no curto e no médio prazo. Depois, na mesma linguagem accessível, respondeu a várias perguntas do paciente e, inclusive, pelo teor das questões, percebeu que o paciente compreendera bem o explicado. Uma conexão médico-paciente se fizera bem adequada.
Entrementes o alerta: O Dr. JTH notou que os questionamentos do paciente foram 10% sobre o benefício presumido e 90% sobre as adversidades possíveis, a proporção que faz o médico se sentir uma verdadeira bula. À medida que transcorria o diálogo, o médico observou sinais nítidos de uma comunicação não verbal indicativa de hesitação. Transparecia no paciente um confronto entre um sim para o benefício e um não para os malefícios apresentados.
A recepção do esclarecimento médico pelo paciente não foi neutra, e nas entrelinhas dos seus questionamentos, ficou claro que o paciente desejava nas respostas do médico não exatamente um reforço de verdade quanto ao benefício e uma desvalorização das adversidades, que elas fossem apenas cogitações inautênticas, longínquas, com intuito defensivo profissionalmente.