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732- Régua de risco (Parte 4)

Risco 111O risco proibitivo faz fronteira com o risco aceitável embora alto. Os limites são instáveis, até porque, costuma corresponder a casos clinicamente oscilantes e sujeitos a métodos com pluralidade de efeitos.

Porque a medicina nunca foi uma ciência que pudesse ser classificada entre as exatas – nem se prevê uma mudança a reboque das expectativas com o big data e medicina de precisão, qualquer intuito de esclarecer o paciente numa organização em tabuada fica sujeito a distorções na efetiva realização por influxos conhecidos e desconhecidos, previsíveis e imprevisíveis, evitáveis e inevitáveis.

A clarividência do médico forja-se na vivência dos casos. Ela não admite nenhum sentido de misticismo de bola de cristal, simbolismo para a dificuldade de qualquer precisão sobre evolução clínica. Por isso, na tentativa de dar apoio para a previsão de resultados biológicos pelo rigor de operações matemáticas, o médico precisa conviver com saltos numéricos- percentuais de 5% de chance de evento no risco intermediário e de 15% para o alto risco, por exemplo.

Três itens presentes podem configurar escore de risco intermediário e quatro já agitam o alto risco. Contudo, não fica levado em conta o contínuo da história natural da doença. Por exemplo, é notória a acentuação do risco operatório pelo agravamento da morbidade ou de comorbidade quando acontecem adiamentos da melhor oportunidade do procedimento por alguma razão do paciente, do médico ou do sistema, sem que haja modificação dos itens do escore de risco (idade, tipo de operação, história de alguma doença como cardiopatia, etc…).

A percepção do risco de adversidades em condutas pode caminhar pela reunião de fatores, passo a passo – como habitualmente procede o médico-, ou de uma maneira inversa, partindo da análise já do total- como mais comumente procede o paciente. Desta forma, uma caracterização de proibitivo pode ser realizada de modo gradual do lado profissional, acarretando a contraindicação, e de uma vez do lado do paciente, resultando numa indicação contrariada.

O aspecto dinâmico torna aplicável a pergunta do paradoxo de Sorites ou dos montes Em que momento um monte de areia deixa de sê-lo quando se vai removendo grãos? A adaptação para a beira do leito corresponde a Em que momento o acréscimo ou o decréscimo de fator de risco muda a concepção do médico ou do paciente sobre a fronteira dos graus intermediário e alto/proibitivo do risco em determinado caso? Na ascensão ou abaixamento do número, o nível de risco fica sujeito a pré-definições de linha de corte que representam tendências baseadas em fatos já vivenciados.    

A Bioética da Beira do leito considera que por mais matematização que ocorra na medicina, ela não  vacina contra a imprecisão, limites mal definidos que dão a sensação de vagueza aos critérios, apesar do objetivo de porto seguro. Por isto mesmo, não faltam atualizações dos escores estimuladas pelas realidades dos casos limítrofes que desafiam a objetividade e pelo progresso da medicina. Pelo ensinamento do paradoxo de Sorites aplicável à Bioética, a separação entre proibitivo e não proibitivo requer constantes  e profundas reavaliações.

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