O melhor interesse do paciente adulto segundo a óptica da medicina e o voluntarismo do médico foram reorganizado sno ecossistema da beira do leito pelo direito do paciente ao princípio da autonomia.
A maturidade profissional facilita ao médico contemporâneo perceber quando a racionalidade dada pelas evidências tecnocientíficas é vista como um excesso pelo paciente, e, assim, amenizar um indesejado quê de prepotência profissional na vis]ao do paciente.
Por isso, fica no mínimo estranho quando o médico após respeitar o princípio da autonomia na solicitação do consentimento ao paciente capaz, ao ser negado sem chance de modificação da opinião, faz o encaminhamento do caso para uma consulta ética e/ou jurídica para um aconselhamento sobre como se portar frente a uma das opções lícitas de resposta a sua iniciativa.
O foco contemporâneo no esclarecimento sincero e dialógico é um forte atributo ético. É canal de influências recíprocas onde não cabem interpretações nem de caprichos, nem de fraquezas nas eventuais hesitações do paciente em relação ao consentimento como era no passado. Eventual Não do paciente é um aviso de pare as máquinas! A propósito, será que as máquinas da inteligência artificial obedecerão?
PRD é um paciente com 85 anos de idade que apresentou insuficiência cardíaca após entrar em fibrilação atrial. A identificação de trombos intracardíacos impediu a imediata cardioversão elétrica da disritmia e o paciente teve alta melhorado com o uso de fármacos e com previsão de futura avaliação da oportunidade de reversão da fibrilação atrial na expectativa dos efeitos benéficos do anticoagulante oral.
Após 60 dias, um ecocardiograma transesofágico permitiu a cogitação do procedimento. Após novos esclarecimentos, o paciente indagou: ” – Vou ter que manter o anticoagulante mesmo se o procedimento vier a dar certo?“. Após ouvir resposta afirmativa, o paciente desistiu de ser submetido à cardioversão elétrica: “- Doutor, estou me sentindo bem, tomo os medicamentos e como o senhor disse o anticoagulante resolveu o problema do coágulo, não vejo porque tomar um choque elétrico”.
Engoli os argumentos sobre chance combinada, tolerância farmacológica, etc… e entendi que a fé que foi colocada na conduta farmacológica se começou obscura, agora ficou clara e bastante para o paciente. Desestimulou nova esperança pela visão médica de restitutio ad integrum do ritmo cardíaco.
De alguma forma, o paciente fez-me supor que o capricho (com a conduta) e a fraqueza (por subserviência ao cientificismo) poderiam ser da minha parte. Continuamos médico e paciente moralmente conectados e as diferenças, porque acertadas, não impedem o paciente de me considerar um bom médico para ele e vice-versa. Já são passados 14 meses sem nenhuma intercorrência.
A Bioética da Beira do leito interessa-se pelos dilemas provocados pelo compromisso do médico de estar em conformidade com a medicina e ao mesmo tempo em concórdia com o paciente. Toques e retoques sucessivos, monotonia e exaltação intercambiáveis, estabilidades e abalos dão aplicabilidade ao pensamento de Martin Luther King Jr (1929-1968) para o processo de atendimento na beira do leito: A verdadeira medida de um homem não se vê na forma como se comporta em momentos de conforto e conveniência, mas em como se mantém em tempos de controvérsia e desafio. Atitude! E portanto, a angústia da influência. A dúvida crítica que baliza a conduta pela prudência e pelo zelo.