Pesquisa é evidência. Evidência é benefício. Benefício é providência. Providência é conduta. Conduta é decorrência. Decorrência é medicina. Medicina é ciência e consciência. Distinguindo os extremos, pesquisa é consciência. Ligação direta com a Bioética.
Como exposto no inciso IV do Artigo 2 das Disposições gerais da Declaração Universal sobre Bioética e Direitos Humanos, é objetivo reconhecer a importância da liberdade da pesquisa científica e os benefícios resultantes dos desenvolvimentos científicos e tecnológicos, evidenciando, ao mesmo tempo, a necessidade de que tais pesquisas e desenvolvimentos ocorram conforme os princípios éticos dispostos nesta Declaração e respeitem a dignidade humana, os direitos humanos e as liberdades fundamentais.
Uma pequena parcela dos profissionais da saúde brasileiros desenvolve pesquisas clínicas. Uma diminuta parcela dos pacientes envolve-se com pesquisa clínica. O volume de conclusões/evidências nacionais sobre eficiência e segurança é, não obstante, elogiável.
Médicos são chamados de pesquisadores e pacientes são homenageados como voluntários de pesquisa. Estabelece-se uma verdadeira troca que precisa se mostrar eticamente justificável envolvendo a entrega autonômica da doença (bem esclarecida) e a disponibilização heteronômica de préstimo (a ser esclarecido).
No âmbito da pesquisa clínica, tornar-se um voluntário não depende tão somente da motivação, é preciso a oportunidade de elegível que conjugue com a vontade/aceitação. O voluntário de pesquisa doa-se e recebe. As contribuições em duas vias de direção não são exatamente oportunidade sob controle da vontade/aceitação do paciente, prevalece o compromisso com um protocolo de estudo estruturado, por isso, eventuais intenções de escolhas ao longo da jornada ficam condicionadas ao acordo consentido – vide a randomização para grupo estudo ou controle.
Ademais, é uma adesão comumente de risco, pois as perspectivas de benefício estão mescladas com previsões e imprevisibilidades de malefícios em distintas magnitudes, por mais que o projeto de estudo tenha passado por filtros éticos. Assim, o voluntariado em pesquisa é uma atividade de solidariedade à medicina que proporciona ganhos de evidências úteis para o pertencimento ao objetivo da pesquisa, incluindo a si próprio.
O voluntário de pesquisa, em geral, persiste sob a assistência geral de suas necessidades de saúde, de modo que a submissão a algum método em estudo costuma ser um acréscimo de conduta por um período predeterminado. A Bioética tem altíssimo interesse por este voluntariado com prazo de validade. De um lado, está a moralidade dos cogitados benefícios para a sociedade e para o indivíduo sob pesquisa e de outro a análise crítica sobre uma escala provocada pelas interfaces entre beneficência, não maleficência e autonomia, face à impossibilidade de assegurar modalidades e intensidades de resultados, portanto dando uma conotação de ultrapassagem de desafios.
Durante o desenvolvimento do projeto de pesquisa observam-se combinações distintas de reações: autogratificação por sensação de altruísmo, tensões psicológicas ante o imprevisível, sofrimento físico diante de procedimentos invasivos, alegria pela evolução favorável, decepção pelas adversidades, insatisfações por superposições com compromissos pessoais, etc…, etc…
Por isso, a Bioética da Beira do leito entende que os conceitos de beneficência e de não maleficência não devem se restringir tão somente a vantagens e desvantagens de ordem tecnocientífica, mas devem admitir aspectos emocionais, que podem exercer influências nem sempre explícitas sobre os resultados.