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669- Prognóstico, liberdade prática e não-liberdade teórica (Parte 1)

O prognóstico é elemento presente na maioria dos momentos do raciocínio clínico. Permeia-o de modo mais ou menos consciente. De fato, uma comparação baseada, habitualmente, na comparação entre duração, evolução e termo da história natural versus história influenciada pela medicina sustenta pensamentos do médico na busca da melhor integração entre diagnóstico, terapêutica e prevenção.

Indicações, não indicações e contraindicações de aplicação de métodos controladores ou reversores são formuladas tendo em mente possibilidades futuras. Representam avaliações éticas sobre uso, não uso e abuso que se articulam com os alicerces da prudência/imprudência e do zelo/negligência tendo como ponto de referência vantagens ou desvantagens das modificações evolutivas. Conduta expectante e intervenção de emergência são duas resultantes extremas da visão do prognóstico.

O valor dado ao prognóstico é causa habitual de conflitos entre médico e paciente na beira do leito. De um lado está a tecnociência que se apresenta como uma não-liberdade teórica, pois privilegia um máximo admissível de benéfico/não malefício, algo como um imperativo da verdade do conhecimento. É justificativa bastante para a aplicação do paternalismo brando que não se conforma com um eventual não consentimento inicial do paciente e faz com que o (bom)médico convencido da necessidade persista na recomendação até um limite que não comprometa a liberdade prática do paciente. Do outro lado estão determinações éticas da profissão médica que hierarquizam a vontade da condição humana, ou seja a liberdade prática. Alinha-se ao direito do paciente à autonomia, livre-arbítrio que se expressa no consentimento- ou não à recomendação articulada com a não-liberdade teórica do estado da arte. Ajustes entre domínios da não-liberdade teórica e da liberdade prática constituem pontos altos do caráter humano da conexão médico-paciente.

Ponderações sobre o prognóstico trazem, assim, para a beira do leito velhas discussões filosóficas sobre liberdade, tendo num polo o respeito pela liberdade do paciente em fazer o que bem entende para si e, noutro polo, deveres profissionais. Motivos e fins justificados acerca de necessidades causam diálogos consigo mesmo e com o outro acerca do que estaria sob seu poder e causam tensões na conexão médico-paciente.  Há responsabilidades plurais envolvidas, incluindo a do médico frente a sua consciência e ao Código de Ética Médica e as pessoais do paciente – como o amparo da sua família quando não dá consentimento para uma chance de boa influência da medicina sobre um mau prognóstico natural.

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