3834

PUBLICAÇÕES DESDE 2014

662- Complexidades (Parte 6)

Conheci colegas que se concentravam na chance do bom resultado – não cabia a metáfora do bastão, pois inexistia para eles a necessidade de esclarecimentos para paciente/familiar sobre o potencial de adversidades. Entendo que é comparável ao comportamento do vendedor de automóvel que exalta as qualidades do veículo e não toca em manutenção, estatísticas de acidentes de trânsito, fator de sedentarismo, etc…

Conheci colegas que se mostravam plenamente otimistas para o paciente e compartilhavam as preocupações de mau resultado com familiar. Colocam-se à margem do ordenamento ético vigente em nome da empatia. Conheci, mais recentemente, colegas que apavoram o paciente pela volumosa ênfase no amplo espectro de malefícios em potencial. Exigem consentimento sem oferecer  sentimento. Conheci pacientes-médicos que em sua imensa maioria preferiram receber menos informações com viés pessimista. Seus diálogos entre estar paciente e ser médico foram suficientes para se conscientizarem acerca do método como bastão com extremidades B e M. Algum colega discorda? A tal da medicina defensiva pode ser muito ofensiva!

O timing da comunicação é importante. Uma coisa são os esclarecimentos sequentes ao longo do processo de tomada de decisão, o passo-a-passo que permite um prazo razoável para ponderações; outra coisa é quando o Sim ou o Não do paciente é exigido de modo premente à realização da conduta, o que pode soar com um enigma para o paciente e trazer a sensação de Édipo ante decifra-me ou te devoro da Esfinge de Tebas.   

A primeira circunstância fortalece a boa qualidade dos esclarecimentos pelo médico para que o paciente participe ativamente e haja, tanto quanto possível, a mais adequada aproximação entre beneficência e autonomia. A  segunda circunstância soa mais como elemento de defesa profissional contra eventuais reclamações perante má evolução, descrição do bastão com ênfase na extremidade do malefício visando a uma obtenção de um não não consentimento, mais do que o consentimento, afora as conotações de burocratização.

A metáfora do bastão é pedagógica para complexidades da medicina contemporânea. A Bioética da Beira do leito entende que cabe ao progresso da medicina cooperar com o equilíbrio do ecossistema da beira do leito e produzir bastões de benefício na extremidade B com redução das potencialidades de realização da extremidade M, quer por aperfeiçoamentos do bastão-método, quer pela aplicação de medidas de segurança individual anti-extremidade M.

COMPARTILHE JÁ

Compartilhar no Facebook
Compartilhar no Twitter
Compartilhar no LinkedIn
Compartilhar no Telegram
Compartilhar no WhatsApp
Compartilhar no E-mail

COMENTÁRIOS

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

POSTS SIMILARES

fev0 Posts
mar0 Posts
abr0 Posts
maio0 Posts
jun0 Posts
jul0 Posts
ago0 Posts
set0 Posts
out0 Posts
nov0 Posts
dez0 Posts
jan0 Posts
fev0 Posts
mar0 Posts
abr0 Posts
maio0 Posts
jun0 Posts
jul0 Posts
ago0 Posts

fev0 Posts
mar0 Posts
abr0 Posts
maio0 Posts
jun0 Posts
jul0 Posts
ago0 Posts
set0 Posts
out0 Posts
nov0 Posts
dez0 Posts
jan0 Posts
fev0 Posts
mar0 Posts
abr0 Posts
maio0 Posts
jun0 Posts
jul0 Posts
ago0 Posts