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662- Complexidades (Parte 6)

Conheci colegas que se concentravam na chance do bom resultado – não cabia a metáfora do bastão, pois inexistia para eles a necessidade de esclarecimentos para paciente/familiar sobre o potencial de adversidades. Entendo que é comparável ao comportamento do vendedor de automóvel que exalta as qualidades do veículo e não toca em manutenção, estatísticas de acidentes de trânsito, fator de sedentarismo, etc…

Conheci colegas que se mostravam plenamente otimistas para o paciente e compartilhavam as preocupações de mau resultado com familiar. Colocam-se à margem do ordenamento ético vigente em nome da empatia. Conheci, mais recentemente, colegas que apavoram o paciente pela volumosa ênfase no amplo espectro de malefícios em potencial. Exigem consentimento sem oferecer  sentimento. Conheci pacientes-médicos que em sua imensa maioria preferiram receber menos informações com viés pessimista. Seus diálogos entre estar paciente e ser médico foram suficientes para se conscientizarem acerca do método como bastão com extremidades B e M. Algum colega discorda? A tal da medicina defensiva pode ser muito ofensiva!

O timing da comunicação é importante. Uma coisa são os esclarecimentos sequentes ao longo do processo de tomada de decisão, o passo-a-passo que permite um prazo razoável para ponderações; outra coisa é quando o Sim ou o Não do paciente é exigido de modo premente à realização da conduta, o que pode soar com um enigma para o paciente e trazer a sensação de Édipo ante decifra-me ou te devoro da Esfinge de Tebas.   

A primeira circunstância fortalece a boa qualidade dos esclarecimentos pelo médico para que o paciente participe ativamente e haja, tanto quanto possível, a mais adequada aproximação entre beneficência e autonomia. A  segunda circunstância soa mais como elemento de defesa profissional contra eventuais reclamações perante má evolução, descrição do bastão com ênfase na extremidade do malefício visando a uma obtenção de um não não consentimento, mais do que o consentimento, afora as conotações de burocratização.

A metáfora do bastão é pedagógica para complexidades da medicina contemporânea. A Bioética da Beira do leito entende que cabe ao progresso da medicina cooperar com o equilíbrio do ecossistema da beira do leito e produzir bastões de benefício na extremidade B com redução das potencialidades de realização da extremidade M, quer por aperfeiçoamentos do bastão-método, quer pela aplicação de medidas de segurança individual anti-extremidade M.

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