Para o médico, uma adversidade na realização da conduta pode ser um desenvolto faz parte, porém, para o paciente pode ser inadmissível. A condição humana determina reações alinhadas com individualidades forjadas na evolução do Homo sapiens. Doença é pleomórfica e, por analogia, método reversor não é diferente.
Sempre haverá algum viés nos esclarecimentos, especialmente nas circunstâncias com excesso de vulnerabilidade proporcionado pela doença… e pelo tratamento.
Aconselha-se o médico a não perder tempo com comunicação sobre efeitos adversos comuns – gastrite, por exemplo-, que não são mais desconhecidos pela população em geral, e a focar nos específicos das condutas cogitadas, tanto os inevitáveis quantos os possíveis. Comportar-se como a bula de medicamento é um desafio profissional da complexidade da medicina contemporânea, sempre haverá uma falta ou um excesso, fonte para alguma crítica imediata ou tardia.
A beira do leito prioriza o benefício dos métodos aplicáveis, evidentemente, mas, está destinada a conviver com adversidades de percurso da conduta. Cada uso carrega sua caixa de Pandora que pode ou não se abrir. Assim, cada método em medicina admite ser marcado com o atributo de desuniforme. A variabilidade de efeitos determina complexas implicações de natureza ética, moral e legal. Fica implícito que o bem e o mal estão interligados e inseparáveis e cada qual exterioriza-se por um lado. Plausibilidade para o emprego didático de uma comparação do método em medicina com o bastão.
O atributo intrínseco do bastão a ser comparado é possuir duas extremidades opostas. Assim, a dualidade benefício/malefício em mesmo método presta-se a ser um comparante e provocar uma metáfora.
Vejamos: Na extremidade B está o benefício e na extremidade M está o malefício. Alguém bem intencionado corta a extremidade M para anular o malefício. Resulta outra extremidade igualmente oposta à do benefício. Eliminar o potencial maléfico significa cortar todo o bastão, assim, cancelando também o benefício. Em suma, devemos considerar que inexiste iatrogenia zero, pois, como ouvi um dia do meu pai, nunca se esqueça que a água com açúcar que acalma pode desassossegar o diabetes, a circunstância dita a hierarquia entre opostos. Ensinamento que se alinha com o Hot–Cold Empathy Gaps and Medical Decision Making de George Loewenstein (nascido em 1955), resumidamente: situações mais aflitivas superestimam a necessidade de reverter no curto prazo e subestimam más consequências possíveis no longo prazo e, vice-versa, momentos tranquilos superestimam o que poderia vir a perturbá-los e subestimam efeitos coadjuvantes da tranquilidade. Um conselho comportamental derivado é não vá ao supermercado aflito com a fome, você superestimará a almejada reversão e subestimará o gasto com o carrinho abarrotado que sentirá algum tempo depois com a chegada da fatura do cartão de crédito. Por outro lado, do sossego de um dia tomando sol na praia poderá resultar uma noite desagradável pelas queimaduras. Em outras palavras, método em medicina é um bastão inquieto pelas extremidades.