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637- Bioética da Beira do leito 2019 (Parte 10)

Princípio da Não Maleficência: A complexidade da medicina contemporânea admite provoca heterogêneas interações na disposição recíproca entre método e paciente. Pela metáfora do bastão, cada método corresponde a um bastão em que uma extremidade de malefício opõe-se a do benefício e, assim persiste mesmo após cortes. Cabe, então, ao médico o dever moral de planejar a conduta com a seleção de métodos-bastão com menor potencialidade de malefício previsível.

A não Maleficência é um produto da Grécia antiga de tanta inteligência natural. Hipócrates foi quem orientou que era prioritário não fazer mal ao paciente (primum non nocere), apesar da boa intenção frente à carência de Beneficência. Ele já raciocinava com a necessidade de evidências.  Após 26 séculos de existência, o prazo de validade não expirou, essencialmente, porque as dobras da medicina contemporânea impedem a única cogitação de uma realidade de benefício destituída da potencialidade de malefício para cada método clássico ou inovador.

A Bioética da Beira do leito respeita o termo Não Maleficência, contudo, entende admissível o ajuste de nomenclatura para Segurança do paciente. A concepção hipocrática de não provocar danos ao paciente nasceu numa época de pouquíssima chance de benefícios, de modo que era prudente o médico de uma nota só não inventar apenas uma boa ideia ou por ouvir falar. Podemos teatralizar Hipócrates recomendando a um discípulo deixar como está porque é melhor do que arriscar uma piora no escuro. Por séculos, o small data prevaleceu, como já disse uma vingança dos teledeuses alijados da medicina por Hipócrates.

O século XVIII trouxe um exemplo de arriscar no escuro e outro sobre a exigência de análise e comprovação, pois era consciente que não bastava comprovar o benefício, mas também, era preciso adotar a cautela hipocrática, ou seja, reconhecer eventuais adversidades do método.

De alguma maneira a inclinação para uma visão mais científica pelos médicos acerca dos resultados foi uma reação a certos comentários não exatamente elogiosos registrados na história da medicina: o que se conhece foi descoberto por não médicos e os métodos disponíveis são tão danosos que só não devem ser afundados no oceano porque fariam mal aos peixes.  

Os dois marcos históricos foram: a) a descoberta da vacina por Edward Jenner (1749-1823) que, após ouvir falar que a ordenha da vaca transmitia a vacínia (varíola do gado) de uma forma sequente e que protegia contra a varíola, transferiu material de pústula de vacinia do gado de uma ordenhadeira para a pele de um garoto saudável de 8 anos de idade e o nada voluntário de pesquisa não contraiu a varíola alguns dias depois de ter sido contaminado pelo sangue de um doente (hoje o benfeitor da humanidade Jenner teria sido cassado pelo CFM); b) William Whitering  (1741-1799) estudou uma poção que era vendida por uma senhora em  Shropshire, motivo de romaria para a cura de edemas e descobriu o efeito benéfico da digitalina, ao mesmo tempo em que criou o temerário  método Whitering de digitalização, ou seja, a titulação das doses pela toxicidade, manifesta por vômitos, xantopsia e bradicardia, prescrevendo no limite do pensamento de Paracelso (1493-1541): A dose certa diferencia veneno de remédio.

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