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630- Bioética da Beira do leito 2019 (Parte 3)

O leito é um clássico ponto de encontro entre o paciente que o ocupa necessitado da medicina e o médico que o assiste, à sua beira, investido da autoridade advinda como representante da medicina universal.

Beira do leito é um sentido figurado a respeito da aplicação do patrimônio da medicina que tomei emprestado do italiano Guglielmo da Saliceto (1210-1277). Repercuto à brasileira.

Justifico o simbolismo. Oito séculos depois, a beira do leito é distintivo da relação médico-paciente no entorno da medicina e exige o comprometimento com o máximo de benefícios e mínimo de malefícios, segundo os melhores interesses para o paciente.

É simbolismo da transformação de evidências em aderências e da constatação que casos são acasos clínicos.

DECÁLOGO DA BEIRA DO LEITO

  1.                                                                                            Disseminadora da harmonização entre legitimidade tecnocientífica e admissibilidade moral                                                                                                                                                                  que sustenta a tripla missão contemporânea de recuperar órgão doente, preservar órgão saudável e não agravar comorbidades
  2. Acolhida do profissionalismo que reúne racionalidade, competência, cuidado e compaixão;
  3. Facilitadora da aproximação da biografia do paciente ao padrão bibliográfico da medicina;
  4. Sinalizadora da intenção de tornar utilidade e eficácia de método em resultado útil e eficaz;
  5. Apoio para o retrato falado do paciente com nuances fisiopatológicas e de valores, objetivos e interesses;
  6. Consciência que a superioridade de conhecimento do médico não autoriza posturas rígidas de dono da razão ou de tutela de domínio;
  7. Calibradora de interlocuções, silêncios e timing do ouvir-se falar – para não dominar o diálogo- e do ouvir-se ouvir – para não se distrair;
  8. Santuário do dever do sigilo profissional sobre as linguagens verbal e não verbal da conexão médico-paciente;
  9. Observatório de expectativas, realizações e frustrações;
  10.                                                                                           Integrante do cenário do pentágono formado pela medicina (ciências da saúde de modo geral), médico (profissionais da saúde de modo geral), paciente/familiar, instituição de saúde e sistema de saúde;

O decálogo convive com complexidades clínicas que provocam atuações do médico além da rotina. Estimula-se, assim, a busca  por algum tipo de assessoria.

Uma qualidade da assessoria para os dias de hoje é  que seja  empática a um novo entendimento de saúde: a capacidade de adaptação e de autogestão aos desafios de ordem física (proteger-se de danos), emocional (enfrentar situações difíceis) e social (cumprir obrigações e portar-se com independência).  É um ajuste ao conceito que saúde não é ausência de doença pelo crescimento da cronicidade das doenças e  maior envelhecimento das pessoas. Já o entendimento de doença fica facilitado pela noção de agrupamento de critérios que inclui: disfunção, dano que causa sofrimento ou incapacidade, abrangendo fatos da biologia e da psicologia humanas e numa dimensão além do controle consciente da pessoa.

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