O cotidiano de uma consultoria por Comitê de Bioética não é a promoção de um clima de mandatório ético, moral ou legal perante um confronto na relação médico-paciente, nem a criação da sensação de compulsório para determinada orientação, muito menos uma “forçada de barra” na direção de uma escolha que seria “evidentemente” melhor.
O cerne da consultoria em Bioética é dar uma contribuição para a realização interativa das capacidades individuais- profissional e do paciente leigo- ao redor de direitos e deveres, objetivos, valores, desejos e preferências. A ideia é facilitar o alcance do máximo de amplitude e de profundidade sobre os aspectos em discussão, motivações e caminhos resolutivos.
É claro que as expertises profissionais do consultor em Bioética levam-no a uma visão pessoal – o que ele faria-, ou seja, ele não é um ser absolutamente neutro. Contudo, cabe a ele, pela função consultiva, fazer uma análise imparcial, ter rigor na ponderação de prós e contras, evitar vieses, inclusive, sobre o que ele, pessoalmente, “nunca faria”, mas que se acontecer, não constituiria nenhuma transgressão a normas e leis.
Não faltam posicionamentos de cada lado do confronto que o consultor – instado pelo seu próprio profissionalismo- entende prejudicial a algum objetivo do caso, porém, ele deve evitar forçar um direcionamento de sua preferência, apenas relacionar entre os “contras”, pois cada situação é sempre única. É contensão que vai se fortalecendo com o tempo.
A função do consultor em Bioética de qualificar o diálogo entre as partes, ampliar a visão de conveniências e inconveniências em jogo e balizar escolhas para uma tomada de decisão a ser expressa por um consentimento- ou não- tem um núcleo. Ele abriga a gama de fundamentos tecnocientíficos e de humanismo que possuem suas definições validadas e seus critérios para aplicação, vale dizer, precisam ser mais apresentados e explicados do que propriamente discutidos em suas essências. Ao redor, há uma órbita que contém as contraposições de fato admissíveis a respeito da validade dos fundamentos no caso em questão. Além, outra órbita que abriga considerações desviantes, pensamentos fabulosos que embora exijam respeito à formulação, requerem um alerta sobre seus efeitos desviantes.
Em suma, qualquer participação do consultor em Bioética num conflito da relação médico-paciente que possa resultar num passo-a-passo progressivo de “contra”, “não tanto contra”, “admissível” “quem sabe” e “favorável” deve ser pautada por uma isenção. Em outras palavras, não se trata de uma questão múltipla-escolha com necessidade de marcar sinteticamente uma opção, mas de realizar uma análise qualificada de todas as escolhas apresentadas.