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528- Menor esforço, maior reforço

Cada elemento da renovação do conhecimento e da disponibilidade de métodos em Medicina  é  justificadamente lenta desde a concepção até a validação. No universo da tecnociência, não basta ter a ideia, é preciso que seja pesquisada quanto ao benefício e segurança.

Todavia, o ser humano deseja o menor espaço de tempo para a obtenção do melhor resultado para suas demandas. Por isso, habitualmente, se frusta com o lento desenvolvimento de efeitos de métodos disponibilizados pela Medicina. Remediar segundo a Medicina validada é, comumente, trabalhoso, requer alguns sacrifícios e não costuma ser apresentado com promessa de sucesso garantido. O aqui e agora da pós-modernidade é uma realidade universal.

Assim, não é incomum almejar resultados por um processo de realização veloz – ou até dispensável- de etapas de atuação fisiopatológica. Um exemplo comum está no desejo de perda de peso corpóreo por meio de um método fácil de utilizar e com a expectativa de  efeito duradouro sem mudanças dos hábitos causadores da obesidade. Algo como o pó-de- pirlimpimpim usado no Sítio do Pica-pau Amarelo de Monteiro Lobato (1882-1948).

No contexto de fontes de beleza e juventude à margem do rotineiro, excepcionalidades que se encaixam em mentalizações estéticas, é usual a tática promocional de desconstruir a imagem do médico, que o método-milagrento anunciado não desperta interesse profissional por razões financeiras. Enfatiza-se o expediente que o médico sabe que  existe, que funciona, mas sonega a informação em função de inconfessáveis ganhos secundários e conflitos de interesse.

As “evidências” apresentadas pelos anúncios do extraordinário em forma de notícias são retóricas, motivacionais do “não perca uma oportunidade proporcionada pelo amigo que lhe faz um grande favor” e apelativas para “porque não experimentar?”. O imediatismo do encaixe no desejo altamente ansiado, frequentemente associado a decepções com as recomendações médicas, perturba o equilíbrio entre o racional e o emocional, aquece este e esfria aquele. Num cenário de bilhete premiado, a “verdade líquida” escorre pelos dedos que já palpam os efeitos pretendidos e os aciona a teclar com a energia da fé, aceitando os termos da oferta. Nesta tentativa de influenciar o futuro sem maior juízo crítico, cabe o pensamento de Aristóteles (384 ac-322 ac): a esperança é um sonho acordado.

A Bioética da Beira do leito reforça que o médico deve aproveitar as oportunidades de contato com seus pacientes para o esclarecer sobre os princípios básicos de uma conduta médica baseada na ética, sobre a conformidade com evidências científicas e sobre cada timing de desenvolvimento e aplicação dos métodos. Ele deve, inclusive, destacar  a responsabilidade do próprio paciente por decisões “impulsivas”.

Como empreender este serviço de alerta por utilidade pública com qualidade associando legitimidade tecnocientífica com admissibilidade moral deve ser preocupação de todos os profissionais de saúde.

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