A beira do leito é sala de aula clássica do médico e admite o dilema você não pode trabalhar nela sem experiência, mas só adquire experiência se nela trabalhar. A solução é a supervisão constante do inexperiente por médico experiente com a finalidade de treinamento com transferência de exemplos e competências. Assim é no internato, na residência Médica e perdura até a aposentadora sob distintos contextos.
O passar de leigo para profissional inclui cada vez mais o manejo de complexidades clínicas por meio de avanços tecnocientíficos. Isto significa desconstruções e reconstruções constantes de estratégias diagnósticas, terapêuticas e preventivas, vale dizer, trabalhar sem uma experiência específica objetivando sua gradual aquisição (curva de aprendizado), evidentemente, sob a condução da expertise já adquirida de modo geral.
A situação de desenvolvimento da habilidade em serviço, quer a partir do ponto zero, quer aperfeiçoamento, guarda certa analogia ao relatado no livro Catch 22 de Joseph Heller (1923-1999). Nele há a solicitação de um piloto de caça para que seja considerado insano e dispensado do combate (enquadramento no regulamento 22) – e, assim, não participar dos horrores da guerra. O ponto é que o pedido já configura por si atestado de sanidade. Não tem escapatória, qualquer movimentação desemboca no mesmo caminho.
Guardadas por obviedade as devidas proporções, caso o “aprendiz” recuse-se a “pilotar” uma simples tomada de anamnese do paciente, configura admissão de insuficiência de habilidade e a resolução será, inevitavelmente, o exercício do que estava a fim de se recusar. Da mesma forma, o médico pela responsabilidade profissional não pode (é vedado): Deixar de atender em setores de urgência e emergência, quando for de sua obrigação fazê-lo, expondo a risco a vida de pacientes, mesmo respaldado por decisão majoritária da categoria (Art. 7º). O médico ao justificar falta para não ser antiético em função de “insanidade” do sistema, assim entendido pela classe, estará sendo conscientemente antiético.