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512- Confiança é um equivalente à autonomia na beira do leito

Confiança é daqueles sentimentos que escancara a responsabilidade pela fidelidade, por exemplo, aos preceitos éticos, morais e legais da prática profissional pelo médico. Confiança do paciente, lembrando que a tradição praticamente considera um pleonasmo, pois se não estiver ocorrendo como tal algo está mal articulado na conexão médico-paciente.

A confiança do paciente não desliga a sua mente da análise avaliativa sobre a conduta do médico. Aliás, nunca deve. De fato, o paciente quando recebe recomendação terapêutica do médico costuma avaliá-la em conformidade com suas expectativas. É desenvolvimento mental que fica bem claro, por exemplo, por ocasião da busca pelo paciente de uma segunda opinião, pois evidencia que a primeira opinião está sendo alvo de desejos por confirmação ou modificação mais amigável com suas preferências. Este comportamento não representa real desconfiança na palavra do primeiro médico, mas uma característica da condição humana de procura por plena satisfação, no caso dando prioridade aos receios do método resolutivo sobre os anseios pela eliminação do mal.

A conscientização pelo médico da postura de filtragem crítica pelo paciente – quer apenas por si, quer por participação de terceiros, médicos ou não- é ilustrativa da imprescindibilidade de máxima compreensão das informações do médico pelo paciente. O médico é uma autoridade profissional que não deve ser  um autoritário pessoal, por isso é essencial a assimilação para que o processo de consentimento possa ser qualificado como legítimo, vale dizer, absorvido, metabolizado, incorporado… e endossado. Evidentemente, é desejável um vaivém dialógico  entre médico e paciente para o entendimento de significados tecnocientíficos pouco íntimos do paciente.

Assim, em termos simples e práticos, o paciente – um leigo com mais ou menos conhecimentos de Medicina-  procura no médico uma conduta resolutiva para dizer é da minha confiança. Como parte integrante do prontuário, a recomendação terapêutica também pertence ao paciente, não exatamente como uma doação, algo passivo, mas como produto de uma filtragem num processo de endosso, que é denominado de consentimento livre e esclarecido.

Assim sendo, na Medicina contemporânea os pacientes não devem ser vistos como parte decisória inerte, aliás, já à anamnese que dá a partida do atendimento manifestam-se graus de atividade mental integrativa pelo paciente. À medida que flui o atendimento, vários momentos são vivenciados com a manifestação verbal do paciente sobre seus pensamentos acerca da sua percepção das circunstâncias, e que sustentam respostas críticas, nunca a serem recebidas com indiferença pelo médico.  A mútua compreensão além de educativa nutre a confiança.

Cabe ao médico sempre que a situação clínica permita prover o paciente das informações mediante formas adequadas de comunicação que o ajudem a dar equilíbrio entre perspectivas de curto e longo prazo, a desconsiderar irrelevâncias na análise dos prós e contras, a maximizar a objetividade em meio a uma situação de exaltação afetiva. Considerando as esferas de Hallin (Daniel Clark, nascido em 1953), reforçar o que é consenso, discutir contraposições autênticas e afastar desvios da objetividade.

É bem conhecido que a acentuação da vulnerabilidade pela enfermidade tende a repercutir num intrapessoal movimento de “volta ao útero”, vale dizer, destaca a proteção com submissão heteronômica (” … doutor, o que o senhor decidir, está bem para mim”…). É uma realidade da beira do leito, o médico propõe-se a dialogar com a expressão da autonomia do paciente e este como que abre mão de elaboração de pensamentos decisórios e posiciona-se pelo velho paternalismo fraco, já atestando que não ocorre nenhum nível de proibição ou de coerção por parte do médico.

A Bioética da Beira do leito valoriza o direito ao princípio da autonomia como respeito a desejos, preferências, objetivos e valores do paciente no processo de tomada de decisão, e que culmina com o consentimento. Todavia, percebe que as etapas previstas para consideração perfeitamente afinadas com a doutrina não são, necessariamente, cumpridas no mundo real da beira do leito. Não se trata de descaso por parte do médico, mas de uma abdicação do paciente que inclui a confiança no profissionalismo do médico- além de outros aspectos como a falta de vontade de assumir responsabilidade pelo sim, por parte do parte do paciente.

A Bioética da beira do leito entende que a de fato confiança do paciente na responsabilidade ética profissional do médico embute um equivalente admissível do seu direito de participar ativamente do processo de tomada de decisão sobre questões da saúde. Todo o esforço deve ser concentrado para lapidar a tradicional eticofilia dos médicos, geração após geração, á medida que se dão a sucessão de progressos da Medicina e as exigências da sociedade, sem nenhum descuido  do controle de eventuais desvios sobre o Princípio fundamental II do Código de Ética Médica vigente: O alvo de toda a atenção do médico  é a saúde do ser humano, em benefício da qual deverá agir com o máximo de zelo e o melhor de sua capacidade profissional. 

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