Já se disse que o oposto a uma verdade profunda pode ser outra verdade profunda. De origem na Física quântica – seu autor é o Prêmio Nobel Niels Henrick David Bohr (1885-1962)- aplica-se à Medicina, na beira do leito. Razão para que uma das motivações para o exercício ético da prudência é o pilar da visão e atitude transdisciplinar caracterizado como abertura para a aceitação de possibilidades desconhecidas, inesperadas e imprevisíveis.
Hipócrates (460ac-370ac) reconhecia que métodos disponíveis podiam provocar danos ao paciente e, assim, pregava que deveriam ser evitados se não houvesse chance de benefícios – Não maleficência. Podemos imaginar que o arsenal terapêutico que dispunha era rudimentar, ou seja, não permitia grandes resoluções de fato por ele provocadas. Portanto, não fazer não representaria, em sua maioria, imprudência, mas uso do bom senso. Médico humano e pouco efetivo cientificamente. Um passo difícil na retirada dos deuses como conselheiros de saúde.
Atualmente, a situação é de chances crescentes de benefício com potencial de malefícios a reboque, quase que invariavelmente. As histórias em torno da bula dos medicamentos são esclarecedoras a este respeito. O paciente deseja o benefício, mas preocupa-se com danos possíveis, obviamente nada diferente do médico. Só que o médico encara o potencial de dano catalogado como mal necessário de uma relação risco/benefício ética e procura reduzi-lo ao mínimo, evitar sempre que possível.
Contudo, há males inesperados e imprevisíveis. Assim, há adversidades relacionadas a efeitos farmacológicos, complicações de procedimentos, comportamentos emocionais esperáveis e inesperáveis. Se Hipócrates nomeou a evitação do dano como Não maleficência e foi aproveitado como denominação de um princípio da Bioética, o certo é que o extraordinário progresso da Medicina eliminou o conceito de não dano, substituindo-o por visão de segurança biológica. Desta maneira, cabe ao médico observar as verdades profundas da beneficência cabível e ao mesmo tempo se preocupar com verdades profundas opostas pela quebra da segurança biológica provocada pelo fármaco, pelo procedimento, pelas reações individuais do paciente- qual um efeito bula.
O aspecto prático do raciocínio do médico é a aplicação da prudência- a virtude da fidelidade ao futuro- na tomada de decisão considerando por um lado providências de atenção à Não maleficência – segurança biológica quanto a danos conhecidos- e por outro a abertura para o desconhecido, imprevisível e inesperado.
A formulação da tríade é matéria prima obrigatória no processo de esclarecimento do paciente visando ao seu consentimento parcial, total, ou mesmo acarretando a sua recusa. A verdade está ligada ao conhecimento, a do médico é realidade de sustentação científica, a do paciente é realidade relacionada a sua pessoa, e, assim, eventual não consentimento do paciente apesar da prudência do médico em considerar não maleficência (segurança) e danos esperáveis e inesperáveis (abertura) admite a oposição de verdades (não de certezas) que a física quântica nos alertou para aplicar na beira do leito. William Bart Osler (1849-1919) expressou como “