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497- A tríade prudência +beneficência +rigor

TríadesO médico ao longo do atendimento a um caso precisa decidir os métodos que se faz necessário escolher pretendendo (bons)resultados. Tão simples tão complexo. O ato de integridade profissional da reunião diagnóstico, terapêutica e prognóstico solicita pluralidades de saber e de sabedoria. A realização exige filtragem pela prudência, a virtude e o pilar da ética, histórica na maneira de ser do profissionalismo do médico, imprescindível para a seleção das alternativas conceitualmente válidas com maior potencialidade de bom efeito biológico sensível ao lado humano, portanto cultural,  na individualidade do caso.

Tendo o médico o domínio do saber tecnocientífico, aconselha a sabedoria que o seu manejo na beira do leito seja prudente, o que significa aplicação do senso de responsabilidade que ele carrega dentro de si, tornado solidário às consequências de suas prescrições, como também submissão ao Art. 1º do Código de Ética Médica vigente que dispõe que é  vedado ao médico causar dano ao paciente, por ação ou omissão, caracterizável como imperícia, imprudência ou negligência. Creio que a aplicação da virtude da prudência pelo médico se faz mais pela própria força moral, a consciência dos valores do seu poder (autonomia) do que pela heteronomia de classe. Os verdadeiros filhos do Pai da Medicina carregam o DNA hipocrático das virtudes morais.

A formulação em sentido positivo do artigo acima, ou seja, calcar no benefício e não no dano, seria que cabe ao médico promover o bem para o paciente por meio da perícia, prudência e zelo. Assim, compreende-se que o exercício da virtude da prudência ajuda o médico a tomar decisões com maior possibilidade circunstancial de superposição ao apuro tecnocientífico do  rigor beneficente vigente. Enquadra-se na disposição para fazer o bem, no esforço para se comportar como profissional ético, vale dizer, distinguir mérito na própria estima moral.

Como o conceito de bem para o paciente é passível de visões individuais distintas, a prudência remete o médico à realidade em vigor na beira do leito pela formação de tríades com o rigor tecnocientífico adotado pela transdisciplinaridade e a beneficência como princípio da Bioética, abertura ao desconhecido e ao imprevisível(transdisciplinaridade) e não maleficência (Bioética) e tolerância (transdisciplinaridade) e autonomia (Bioética). Elas se superpõem na prática, Por motivos didáticos, vamos abordá-las separadamente.

Um eventual binômio beneficência+rigor tecnocientífico aplicado no ecossistema da beira do leito não é suficiente para que a escolha de opções enquadre-se nos limites éticos. Cada método persiste com seu rigor beneficente independente de como será manipulado, até de modo afastado do rigor para o benefício, quer por falta de lucidez clínica, quer por conflitos de interesse, quer por ganhos secundários. A prudência cataliza a boa recepção pela boa emissão.

Por isso, a prática da combinação tripartite contribui fortemente para que o médico desenvolva mais do que auto transparência em relação ao manejo das evidências, quer as assim etiquetadas por se constituírem em conclusões de pesquisas sistematizadas (ou metanálises), quer as que podem ser enquadradas em convincente experiência pessoal. A presença da prudência inspira a projeção da atualidade da manifestação da enfermidade no amanhã daquele paciente em particular sob tratamento, ou seja, faz com que o raciocínio clínico da seleção de métodos se devote com cautela humana para comparações sobre (boas) repercussões das opções tecnocientíficas no futuro (imediato, mediato e longínquo), no amplo espectro entre niilismo e obstinação terapêutica. Embora reducionista, pode-se dizer que a tutela da prudência sobre o rigor tecnocientífico faz a assistência acercar-se dos benefícios da pesquisa clínica com humanismo, aproximar-se à Medicina translacional propenso a ajustes individualizados.

Há vantagem na aplicação da tríade tendo como fio condutor combinações dois a dois pela mentalização dos lados de um triângulo onde os três elementos ocupam os vértices. Uma primeira abordagem costuma ser no lado entre rigor tecnocientífico e beneficência, em busca de recomendações validadas pela Medicina para o diagnóstico. As abordagens pelos demais lados representam justamente a passagem pelo filtro da prudência, que como acima mencionado, carrega uma visão ampla de respeito a individualidades do caso, do rigor tecnocientífico a fim de evitar o exagero de racionalidades cientificistas e do benefício de fato a fim de responder à questão Um bem útil e eficaz para quem?

Todo paciente deveria ser muito grato ao seu médico por triangular rigor científico, beneficência e rigor tecnocientífico.

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