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491- Desejos contraditórios

É habitual o jovem médico surpreender-se com a contraposição do paciente a sua orientação bem sustentada cientificamente e voltada para o melhor prognóstico: “… Mas afinal, ele não me procurou para aplicar a Medicina que dispomos?… Então porque ele se recusa a aceitar  o que tem grande chance de resolver?… “. Beneficência e autonomia já nasceram com vieses entre si.

O jovem médico precisa amadurecer profissionalmente. A experiência da beira do leito lhe convencerá que a discórdia médico-paciente consta do mundo real da diversidade da condição humana sujeita a momentos de aparentes incoerências ditados pela doença em função de modos de absorção dos males e de visão de restrições peo tratamento.

O médico pretende atuar sobre o corpo físico do paciente que padece, e cujos sintomas e sinais provocam a procura de uma conduta reversora, por meio de métodos que visam a reversão ou o controle da morbidade, mas que, têm o potencial de provocar adversidades, até inevitáveis apesar de cuidados preventivos. Deste modo, objeções do paciente a recomendações médicas não costumam estar focadas no benefício almejado por ambos, paciente e médico, mas referem-se a limitações esperáveis, quer proibições de atividades valorizadas, quer efeitos  indesejados da aplicação do benefício em graus variados (relação risco-benefício).

Assim, observam-se contradições na vontade do paciente em função de desejos conscientizados por pensamentos ambíguos. ora há a interpretação prioritária do controle da doença, ora há a interposição da ideia de desvantagem. Por isso, o processo de esclarecimento do paciente pelo médico ideal é aquele que faz com o paciente mais do que bem informado passa a ter real propriedade do conhecimento da questão, à semelhança do médico, evidentemente, guardas as devidas proporções da assimetria de saber. Assim ocorrendo, os desejos, pensamentos e consciência do paciente têm mais chance de se tornar um fio condutor de desenvolvimento de autêntica autonomia, pois os pontos e os contrapontos bem explicados com completitude e clareza ficam compreendidos na mais alta acepção das possibilidades e limitações da Medicina. Em outras palavras, os filtros de prudência que foram utilizados pelo médico para construir as proposições mais admissíveis nas circunstâncias do caso, precisam ficar bem conhecidos  pelo paciente, de modo que o consentimento represente endosso dos mesmos e o não consentimento signifique discordância parcial ou total.

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