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478- Bioética e tempo de atendimento (Parte 2)

O médico reage profissionalmente a como se apresenta a pessoa do paciente, como se mostram sintomas e sinais de distintas captações e como se encadeiam os acontecimentos, quer na imaginação das hipóteses (diagnósticas, evolutivas pós-terapêutica), quer nas realidades consumadas.  Evidentemente, há um consumo de tempo, tempo para recolher matérias-primas, tempo para planejamento e construção das condutas e tempo para avaliação e ajustes do realizado.  Em percentual expressivo, insatisfações no âmbito da relação médico-paciente são atribuídas à escassez de uso do tempo. É uma verdade da beira do leito, pois, de fato na época atual, não temos o tempo, ele que nos tem.

Cada atendimento tem o seu tempo narrativo que costuma ser fragmentado em formas de pensar como momentos- momento de um exame, momento de um procedimento, momento de uma conversa, momento da alta hospitalar-, reduções  em pontos de um fio condutor que são indispensáveis para a assimilação da fria tecnociência com calor humano.

É possível considerar o atendimento ao paciente inserido num conceito de temporalidade, a existência de um prazo de permanência ou a sucessão de vários, cada um deles carregando  um sentido de provisório, onde incidem algumas modalidades de apreciação do tempo.

Assim, o tempo na relação médico-paciente não deve ser considerado tão somente na dimensão cronológica comum- ficou cinco dias internado, o exame dura meia hora, a consulta está agendada para amanhã às 8 horas. Há outros sentidos que a Bioética da Beira do leito considera de utilidade para a análise da conexão médico-paciente.

O entendimento das seguintes duplas é proveitoso: tempo quantitativo (relógio, calendário) e tempo qualitativo (traço distintivo); tempo de atividade (sucessão de providências esclarecedoras e transformadoras) e tempo de aguardo (observação interpretativa); tempo físico (relação passado, presente e futuro) e tempo psíquico (impacto na mente); tempo externo (considerado pelo que nos cerca) e tempo interno (forma individual de contato).

É essencial que a relação médico-paciente não perca a plataforma humana que a sustente no decurso do uso da tecnociência, razão para se lembrar que estar no mundo significa estar no tempo considerado de um modo mais externo ou mais interno. A Bioética da Beira do leito procura contribuir para a interpretação judiciosa dos habituais vai-e-vens de temporalidade de médico e de paciente por convergências e divergências com modos de encarar o tempo pelo outro.

 

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