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477- Bioética e tempo de atendimento (Parte 1)

Sabe-se que a emoção tem razões que a própria razão ignora. É enunciado de aplicação crescente na relação médico-paciente contemporânea. Considerá-lo facilita interpretações sobre o processo de consentimento do paciente ao médico, o andamento de natureza humana que representa notável contribuição da Bioética. Significa a efetiva inclusão do ser humano doente na tomada de decisão sobre condutas que lhe interessam como um humano paciente.

Aspecto relevante do decurso do consentimento é a visão sobre a harmonização do tempo do médico e do tempo do paciente. Tempo medido em segundos ou em dias é variável essencial na construção do diagnóstico, planejamento terapêutico, efetivação do tratamento e avaliação sobre impactos no prognóstico.

Embora comunguem objetivos de benefício e de não malefício, médico e paciente podem ocupar o mesmo espaço do acolhimento com dissonância de percepção sobre o tempo avaliado não pelo relógio ou pelo calendário, mas como ensejo de realização.

Presente e futuro (diagnóstico, tratamento e prognóstico) podem, assim, ser concebidos por continuidades divergentes no ambiente, ao mesmo tempo que o passado (anamnese) pode ser valorizado distintamente. Razão e emoção mesclam-se provocando resultantes de perspectivas segundo um tempo profissional (consciência, prudência, zelo do médico) e outro pessoal (desejos, preferências, valores do paciente).

Concepções de imediatismos e infinitudes formam extremos de uma régua apensa na beira do leito onde as realidades ocupam posições intermediárias – coincidentes ou não- como sentidos do tempo manifesto por médico e paciente a cada etapa do atendimento.

É da vivência na beira do leito que certo percentual de não consentimento do paciente ao médico – pelo menos num primeiro momento- resulta causado por tais assincronias, onde tem grande impacto a pluralidade da condição humana perante acentuação da vulnerabilidade pela doença.

É o que se diz como tendo timings diferentes, no caso sob influência do sofrimento (que tanto deseja antecipações como adiamentos), dificuldades com as entrelinhas da comunicação (carências de empatia) e com o sentido do dever profissional (cumprimento de protocolos). Umas vezes, o médico sugere o imediatismo e o paciente reage por  aguardar, outras vezes, é o paciente quem se mostra apressado na submissão a um método diagnóstico, terapêutico ou preventivo e o médico entende que é mais adequado esperar outra oportunidade.

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