Ao longo de 50 anos de frequência na beira do leito, cuidando da saúde de pacientes e contribuindo para o aprendizado de jovens médicos, apliquei tecnologias de vários tipos.
Desde cedo, revoltei-me contra a adjetivação de baixa sobre a tecnologia do uso de nossos órgãos dos sentidos. Aplicar inspeção, palpação, percussão e ausculta não tem nada de obsolescência, persiste uma expressão da mais alta capacidade perceptiva do ser humano e, por mais que se possa admitir uma inferioridade em circunstâncias clínicas, sempre haverá uma situação aqui ou ali onde predominará como imprescindível contribuição do ser humano para outro ser humano, vale dizer, inteligente, veloz e resolutiva.
Após tantas décadas de extraordinárias modificações da Medicina, observa-se um pacote de tecnologias que poderíamos classificar como simples, accessíveis, nada dispendiosas e fáceis de gerar informação e, tão somente, atualizadas em formatos de recursos técnicos. Ele reúne termômetro, estetoscópio, esfigmomanômetro, fita métrica, “papagaio”, “comadre”, cálice para medir quantidade de urina. Insubstituíveis e indispensáveis para objetivos essenciais. Baixa tecnologia, alta relevância.
Estas considerações reforçam o valor do clássico e alertam sobre a necessidade da crítica desapaixonada sobre a inclusão de inovações na rotina da beira do leito. É essencial uma análise judiciosa sobre o que seria substituição por aperfeiçoamentos tecnológicos e o que seria sucessão complementar de informação sob novos ângulos.
Evidentemente, uma alta intensidade tecnológica – fármacos, aparelhos, instrumentos, órteses, próteses- habitam a beira do leito contemporânea e sustenta originalidades de saberes, desconhecidas habilidades e inéditas evoluções favoráveis.
A Bioética da Beira do leito estimula os profissionais da saúde em geral a valorizar suas próprias avaliações de custo-efetividade sustentando-se na experiência e no bom senso. Como nos ensina o psicólogo Rollo May (1909-1994) no seu livro A Coragem de Criar (Editora Nova Fronteira, 1982), no confronto com os limites, limitação e expansão se completam!