Doença e doente sempre foram os mestres da Medicina. Foi vislumbrado por Hipócrates quando afastou o caráter divino das questões de saúde. O paciente ensina, o médico aprende e a Medicina se desenvolve. O pai da Medicina confiou na inteligência humana natural, acreditou na solidariedade, na compaixão e na curiosidade, atraiu a confiança da população afirmando o sigilo da intimidade. A revelação ao sacerdote transportada para o médico com mesmo grau de crédito. Ele ensinou tendo a beira do leito como sala de aula e o doente como fonte do saber. Uma mudança de modelo que hoje parece tão lógica teve idas e vindas que precisaram da personalidade forte de Hipócrates.
A história da Medicina registra o que aconteceu depois. A competência dos processos da inteligência natural sustentou o domínio de várias doenças, passo-a-passo por métodos surgidos pela criatividade humana, houve a construção do conceito que diagnóstico de certeza é de natureza predominantemente anatomopatológica, da concepção que há sinais clínicos patognomônicos que representam altíssima fundamentação do raciocínio clínico e da noção que há indicadores de magna confiabilidade em exames laboratoriais, isto num olhar bem sucinto.
Recebemos a herança da obrigatoriedade do exame físico, uma atividade que distinguia o homem do ser divino, para recolher do paciente informações da realidade clínica e que ganharam massa crítica para fundamentar o conceito de A Clínica é soberana, internalizamos a ideia que saúde não significa exatamente ausência de doença, ampliando o contexto da Medicina além da expressão clínica, percebemos que o controle de fatores de risco pode desacelerar seus efeitos presumidos com o passar dos anos, passamos a pensar no valor do check-up para reconhecimentos nosológicos ainda em fase subclínica e atenuação de riscos relacionados a hábitos de vida e incorporamos máquinas e dispositivos para enxergar órgãos além do possibilitado pelo exame físico e, assim, melhor qualificar diagnósticos, inclusive, com devaneios sobre A Tecnologia é soberana.
Cresceu a responsabilidade sobre a prática da individualização exigente de habilidades de ajustes tecnocientíficos e atitudes com sustentação ética. A hierarquização do respeito à pessoa do paciente reforçou a concepção de O paciente é soberano, com sua expressão clínica e tudo o mais que se consegue alcançar por meio de métodos, processos e instrumentos. A reflexão que não existem doenças, existem doentes, no seu aspecto de força de expressão para o entendimento que Medicina cuida de um ser humano sensibiliza e valoriza a Bioética!