Noticia-se que no Brasil há excesso de tornozelo equivocadamente articulado e falta tornozeleira eletrônica, antítese da representação do braço forte no Hino Nacional e da braçadeira símbolo de responsabilidade e que nos faz pensar que, na verdade todos nós, passamos a viver com algo parecido em outro membro do corpo, a “algema” eletrônica, nunca em falta, desejo nosso, que nos prende cada vez mais a smartphones e a computadores em geral e até possibilita controle da localização.
Se tornozelo lembra articulação que faz andar na direção desejada, tornozeleira eletrônica lembra Ética-falta de. Este exercício anatômico subindo à cabeça quem sabe possamos vislumbrar um tipo de capacete eletrônico que ajudasse a manter na área de inclusão da Ética comportamentos potencialmente sensíveis a certos cantos de sereia -ela não tem tornozelo para se preocupar-, ajustando mente humana e profissionalismo.
Seria indevido mentalizar a Bioética como um dispositivo e admiti-lo como capacete eletrônico com tecnologia propícia a solucionar problemas e dilemas da beira do leito de seres humanos cuidando de outros semelhantes- mas não iguais? Creio que a figura simbólica é pertinente. Dá para entusiasmar. Aplicar-se-ia à área de inclusão expressa como beira do leito e contribuiria para alertar sobre quaisquer iniciativas de violações da aplicação das Ciências da Saúde de natureza técnico-científica e humana. Pois, cada profissional da saúde beneficia-se quando, ao desenvolver os pensamentos técnico-científicos, vale dizer raciocínios clínicos e do ofício e tomadas de decisão sobre bem/não mal, aplica Bioética como um dos balizadores da excelência. O médico e demais profissionais da saúde não precisam ser um bioeticista – termo ainda polêmico-. Cada bioeticista é que precisa trabalhar para neles capilarizar uma circulação de Bioética que perpasse as realidades pluri-étnicas e multiculturais de objetivos, valores, desejos e preferências na beira do leito da imensidão territorial brasileira de tantos contrastes. É como se fosse uma injeção de células tronco totipotentes para que diferenciem de modo consistente acordo com o ambiente.
Saberes de Bioética devem funcionar como ferramenta do cotidiano na beira do leito. Seriam irrelevantes se não miscigenarem a fatos percebidos, razão pela qual é o hospital o locus prioritário para agregar multiprofissionais em interdisciplinaridade- Comité de Bioética. Eles compõem disciplina da formação do médico, como clínica médica, clínica cirúrgica, ginecologia e ortopedia que só têm utilidade perante o paciente. Assim esta representação habitualmente hospitalar para dar sentido prático ao segmento chamado ética da vida, deve se comportar como retaguarda, como fonte de esclarecimentos à semelhança do que ocorre com a literatura, como fórum para enriquecimento da relação interpessoal e intra-institucional, num presencial ao profissional de saúde mais reservado para situações que provocam paresias/paralisias da atividade prática, dramas de consciência, realidades de grandes dificuldades de ajuste entre fato, valor e dever. Uma minoria ruidosa sobre moralidade ajudando a maioria silenciosa.
Esta Bioética de Todos Nós é desejável pelo profissional da saúde que detestaria uma vigilância ético-legal tão próxima além da própria para seus passos nas conexões com a Ciência da Saúde que lhe é pertinente, com demais profissionais, com paciente/familiar, com instituição de saúde e com sistema de saúde.
A Bioética de Todos Nós é bem-vinda para evitar um simbolismo de tornozeleira constrangedora pairando sobre a beira do leito e para estimular o simbolismo da braçadeira de responsabilidade e do capacete sinalizador de eticidade!