A beira do leito é sala de aula vitalícia do médico. Lições desde o paciente sob efetivo cuidado assistencial representam retoques aos saberes. Cada paciente significa lápis e borracha para o médico-retratista que persegue a excelência dos traços da especialidade https://bioamigo.com.br/771/.
A sala de aula beira do leito personifica-se na identidade do paciente. Não importa se paciente como fonte do saber é ovo ou galinha, o certo é que a História da Medicina deixa claro que médico inexiste sem paciente. Temos aqui uma curiosidade semântica. Paciente é termo que subentende relação com o médico. Se utilizarmos doente, a conexão não fica obrigatória e dá mais clareza que médico surgiu porque havia alguém doente, o que consolida o conceito que beira do leito é sala de aula personificada na identidade do paciente.
O processo de geração e difusão do conhecimento recolhe dados e fatos da beira do leito de pacientes e da contribuição de voluntários de pesquisa, gera evidências e sustenta conceitos e mescla-os com o acervo existente, assim produzindo o continuum formal do aprendizado. O aprendido na leitura de papel de um livro ou de uma revista ou de uma tela de computador materializa-se como uma massa homogeneizada desde muitos seres humanos que volta a outro ser humano numa aplicação recomendada pela proximidade nosológica. Todavia, ao encontrar peculiaridades próprias da individualidade de cada caso, percebe nesta redundância enfática que a homogeneização contém falhas e que os efeitos das mesmas corporificam-se como retoques do saber.
Assim, a sala de aula da beira do leito alternado movimentos centrífugos e centrípetos contribui para dar autenticidade ao ser médico na medida em que qualifica o conhecimento pela interação entre o coletivo da literatura e a individualidade do Seu João e da Dona Maria, pela lembrança que simplificações em prol do didatismo não fazem desaparecer a complexidade em Medicina e que saberes não científicos não podem ser desprezados.
A sala de aula da beira do leito não tem fronteiras disciplinares, ela esforça-se por uma linguagem transdisciplinar que rejeita os monólogos e incentiva os diálogos pelos quais emissão e recepção significam que mútuos ensinamentos e aprendizados.
Inserida no campo da educação médica, a sala de aula beira do leito necessita ser frequentada com níveis de autonomia e liberdade preconizados no Código de Ética Médica vigente e sensíveis à moralidade da sociedade, proporcionar a difusão de valores e de modelos de atitudes e ter o seu conteúdo reconhecido como essencial para capacitar ao desenvolvimento per si do ser médico. Em suma, estar médico de um paciente é premissa ética para apurar o ser médico.
A Bioética da Beira do leito estimula a visão de magistério da beira do leito.