Ciência, consciência e convivência. Um encontro da beira do leito. Essência da atenção a cuidados com a saúde do ser humano. Necessidade de convergências para uma tomada de decisão. Realidades de divergências provocadas por pluralidades, diversidades, adversidades, possibilidades, imprevisibilidades e admissibilidades. Indecisões? Disque Bioética! Um chamado para prover sustentabilidade ética à deliberação.
A beira do leito convive com esperanças. Elas resultam concretizadas- maioria- ou frustradas- minoria. Dos insucessos brotam estímulos reformadores e inovadores. Técnico-científicos e humanos. A Bioética contribui para iluminar e ajustar as reações humanas ao uso da biotecnologia diagnóstica e terapêutica.
A Bioética oferece auxílio para a substituição de paredes por pontes. Cada vez mais, acompanhando a dualidade benefício-dano do progresso da Medicina. Reforçando caso-a-caso a capacidade de contribuir para modelar o quantum satis do saber prático das ciências da vida.
Toda tomada de decisão tem um custo emocional bilateral na relação médico-paciente. Diretrizes de condutas presumem imparcialidade frente às circunstâncias de enfermidades. As chamadas evidências preservam a justeza da recomendação, tudo muito dinâmico, mas assentado na medida do possível no que há de mais sólido e verdadeiro na interface entre clínica e técnico-ciência.
Todavia, há muita areia movediça na beira do leito. A ausência de neutralidade é matéria prima da mesma. Pois é difícil haver indiferença, o mais provável é que haverá um posicionamento preferencial, quer do médico, quer do paciente. Abstenho-me de considerar eventualidades de má-fé que comprometem a imparcialidade. Foco nas instabilidades existentes justamente porque há boa-fé. Quero dizer, nos desequilíbrios gerados pelas verdades em que cada um crê, verdadeiro para si, e que impedem consenso entre as partes e requerem juízos talhados pela sinceridade.
Uma preocupação com mobilidades danosas da beira do leito diz respeito ao desnível de poder em face a vulnerabilidades. É emblemática a figura clássica do médico poderoso e do paciente fragilizado. Novas posturas sociais e culturais modificaram o trânsito de direitos e deveres na beira do leito. A Bioética ajuda a regular os semáforos das rotas que vão se formando.
Pode ser que a disposição médico-paciente esteja perfeitamente alinhada, ou seja, o que ambos pensam e desejam formam duas não neutralidades à questão articuladas para mesmo movimento. Consentimento do paciente resume. A confiança que há uma parceria de interesses dentro do respeito e da ética, valoriza. É o sinal verde que permite avançar nos cuidados com prudência e com zelo.
Pode ser que o desaprumo é que prevalece entre médico e paciente. Interesses não se ajustam. Com ou sem um selo ético. Não há chancela ética para atender a uma solicitação de “atestado de corredor”, onde o interesse pela verdade é distintamente manifesto. Há chancela ética quando o interesse do médico em cuidar de acordo com o estado da arte é recusado pelo paciente capaz fundamentado em seus valores e assim assume as responsabilidades da contraposição. É o sinal vermelho que impede o prosseguimento e permite fluxo em outro sentido.
Pode ser que haja confronto entre o uso da evidência científica que o médico crê aplicável àquele paciente e a realidade circunstancial de sua ilegitimidade frente ao não consentimento do paciente, muitas vezes gerado por inabilidades na prática de ajustes. Uma figuração paternalista expressa pela dificuldade de fazer concessões à tolerância onde o padrão de conduta deve ter as cores da autonomia é causa comum do sinal amarelo. Atenção é o seu significado, muita atenção, aliás, pois qualquer movimento pode surgir, especialmente aqueles que levam a danos de várias naturezas.
Há radares semafóricos na beira do leito. Suas câmeras registram imagens éticas na maior parte do tempo. Cada médico precisa atuar neste bom sentido, especialmente, perante os inevitáveis desafios de conduta técnica e moral que compõem qualquer interação humana. A Bioética da Beira do leito objetiva ampliar a competência de cada médico para transformar instabilidades simbolizadas no sinal amarelo em coerências pela luz verde ou pela luz vermelha na beira do leito.