Fusão, difusão e confusão em relação ao par – necessidades coagem e ilustram que liberdade na beira do leito nem sempre significa fazer o que se deseja – estão sujeitas a desempenhos profissionais que podem suscitar inquietações sobre indubitável atenção ao significado mais puro do mesmo, mas que são de difícil contestação. Alguns exemplos:
- O médico apresenta única opção de método quando outros seriam justificados. O método pode ter ficado bem esclarecido, mas a incompletude não é justificável. Falta de uma ampla experiência, carência de recursos disponíveis e conflitos de interesse são causas.
- A exposição da necessidade de aplicação do método acompanha-se de certas palavras sorrateiramente coercitivas.
- Uma nova exposição da necessidade de aplicação do método faz-se na presença de familiar com alta ascendência moral sobre o paciente, após a recusa inicial pelo paciente ter sido objeto de diálogo entre o médico e o familiar à margem do paciente.
- Entendimento pragmático pelo médico que na verdade o paciente não captou corretamente os prós e contras, mas que como entendeu produziu o consentimento.
- Cobrança pelo médico de uma decisão imediata pelo paciente indeciso numa situação eletiva.
- Terceirização do ato de consentimento para um documento apresentado ao paciente desassistido da possibilidade de apoio técnico, o simples Assine Aqui!, especialmente num momento de grande apreensão como à chegada do paciente no hospital para pouco tempo depois ser submetido ao procedimento conforme agendado.
Valor da Bioética da Beira do leito é o quanto sua colaboração ajuda a desdobrar ambiguidades e vaguezas na conexão médico⇔paciente a fim de simplificar tomadas de decisão por meio de mais consciência de interpretações e flexibilidades sobre necessidades específicas. Bom para quem? Útil para quem? Justo para quem? São questões ao gosto da Bioética da Beira do leito.
Mal-entendidos e falsas expressões de liberdade têm o potencial de construir “invisibilidades” para o médico, “bombas-relógio” aguardando momentos de desagrado com a evolução, na medida em que podem determinar respostas destituídas do espírito da autêntica e validável participação do paciente consciente de prós e contras e justificativas nos processos de tomada de decisão sobre sua própria saúde.
Por isso, os extratos da ciência voltados para os interesses de saúde do paciente em questão devem ser accessíveis a sua compreensão, na medida do possível, dentro do conceito que saber (legítimo) sustenta poder (autêntico). Saber como transmitir o necessário saber faz parte do compartilhamento de poder em tomadas de decisão entre médico e paciente alinhado ao princípio da autonomia.
A sociedade – enquanto conjunto de indivíduos – mudou o entendimento de “terceirizar de olhos fechados” em tomadas de decisão em temas da saúde para médico e profissionais da saúde em geral, ela passou a pretender participação ativa, desejável mudança de paradigma na conexão médico⇔paciente.
A sociedade organiza-se para contar com qualidade da medicina aplicada por profissionais competentes. Aplicação/submissão requerem conhecimentos, habilidades e atitudes que sustentem diagnósticos, tratamentos e prevenções. Há faculdades, há clínicas, há hospitais, há órgãos reguladores e fiscalizadores.