Todo processo de tomada de decisão diz respeito ao futuro, embora seja relacionado ao passado e ao presente. O presente pode ser o quadro clínico de dor e sofrimento, o passado pode ser uma memória de fato desagradável a ser evitado ou de fato agradável que motiva a vontade de não perdê-lo.
Assim, tomar uma decisão é prática de fidelidade ao futuro que se associa à virtude da prudência que determina o que é para ser escolhido e o que é para ser deixado de lado. A perspectiva do “amanhã de hoje” proposta pelo médico é mais endossada na terapêutica do que na prevenção, mesmo a secundária.
A ligação do processo decisório ao futuro implica no exercício da imaginação, andamento na mente que possibilita se antecipar/prever efeitos na saúde, espontâneos e/ou sob interferência tecnocientífica, projetá-los como prognósticos apesar das incertezas, dos riscos, dos acasos e dos desconhecidos. Requer doses de confiança na estrutura profissional e fé na boa consecução.
Atualmente, os diuturnos processos de tomada de decisão no ecossistema da beira do leito alinham-se à autoridade, não somente do médico, como também do paciente. A Bioética da Beira do leito enfatiza que a voz ativa do paciente não deve ser condensada numa simples resposta binária Sim doutor, consinto ou Não consinto, doutor.
A voz ativa – e livre – do paciente deve ser manifestação mais extensa, reativa a esclarecimentos, fazer parte de um diálogo desencadeado pela necessidade do esclarecimento a um leigo sobre um conhecimento especializado e de acordo com vontade pessoal de fazê-lo. A Bioética da Beira do leito ao reforçar que o foco é o futuro com influências da atualidade e do passado alerta que o processo decisório compõe-se de subdecisões que se agregam, se conflitam, paralisam, energizam, funcionam como verdadeiros dialetos próprios da vontade pessoal que precisam ser unificados numa linguagem decisória que possa ser compreendida pelo médico e por aqueles que eventualmente tiverem de lidar posteriormente com dúvidas sobre o respeito à voz ativa do paciente.
Neste contexto de intencionalidades sobre o futuro, sobre possibilidades de realidades que se sucedem, o processo de tomada de decisão no ecossistema da beira do leito carrega a imperiosidade do par livre e esclarecido para a concessão ou não do consentimento pelo paciente, vale dizer sinal verde no semáforo moral da beira do leito. Um corolário é a redução de conflitos decisórios.