Dizem que a pressa é inimiga da perfeição, mas como a perfeição não existe, o fato de o médico mostrar-se, em geral, um apressado tem como lição que o tempo quantitativo precisa funcionar como tempo qualitativo. O ganho de tempo atapeta várias expressões do exercício profissional, não somente como antônimo de perda de tempo, mas também como distintivo da competência (conhecimento+habilidade+atitude) profissional.
A Bioética da Beira do leito enfatiza que se clínica não perdeu sua apreciação de soberana, por sua vez, o exame complementar é poderoso, um poder nutrício e integrador, que se dirige para o outro, coopera para benefício do mais completo esclarecimento. Exames de imagem, por exemplo, conseguem substituir as antigas aberturas exploradoras do corpo humano, vale dizer, evitam atuações invasivas com “cicatrizes” irreversíveis e, a distinção não invasiva sem maiores restrições permite lapidar a captação de informações em vaivéns guiados pelos focos eleitos em cada caso.
Não é incomum, o médico defrontar-se com impasses diagnósticos e efetivar mergulhos em exames complementares. Nada à margem da ética desde que emersão agregada de informações seja um retorno à “superfície” convenientemente alinhada às captações clínicas, em nome do tempo qualitativo. Pular etapas obrigatórias, como desleixar da anamnese e do exame físico e do decorrente raciocínio clínico e partir “direto” para a terceirização do exame complementar no aguardo do “conforto” do texto do laudo significa um ilusório ganho de tempo, um desserviço ao profissionalismo. Não se trata de saudosismo, mas da evitação de reducionismos danosos ao ser/estar/ficar médico, da conscientização que a ética não aconselha esquecer o real significado da adjetivação como complementar- ou mesmo suplementar.
A junção das contribuições de cada elemento da tríade anamnese, exame físico e exame complementar significa dar o devido valor aos componentes bióticos e abióticos no ecossistema da beira do leito, cada qual com sua função de especialidade e área de atuação, em prol de uma unidade da medicina que prospecta verdades por ângulos metodológicos distintos.
A Bioética da Beira do leito reconhece que os exames complementares/suplementares constituem pluralidade com capacidade para de modo ético afirmar, reafirmar ou reformar nosologias regidos por técnicas distintas do clássico par anamnese, exame físico. Eles não flutuam num vazio moral, promovem a indispensável segurança/prudência à condução do caso ao longo do tempo e, ademais, têm o potencial de identificar achados subclínicos. Laudos resultam e transformam-se em matéria-prima para apreciações sobre impactos na qualidade de vida e na sobrevida do paciente e formulações de planejamentos terapêuticos/preventivos.
Realidades, idealidades e validades são uma tríade de influência sobre a constituição da identidade profissional e que não permitem ao médico ignorar que o ecossistema da beira do leito funciona segundo 25 combinações, 2 a 2, 3 a 3, 4 a 4 ou todas as 5, entre os componentes dos ângulos do Pentágono da Beira do leito, um universo de infinitos desafios, dilemas e confrontos.
Alô Bioética!