Medicina, médico(a) e paciente formam uma tríade. Nenhum deles existe sem os demais. O modo como a tecnociência medicina deve se articular com a sociedade onde vivem pessoas como médicos e pacientes, em função tanto de missão social quanto dos fundamentos tecnocientíficos, está sujeito a variações interpretativas e operacionais. A Bioética colabora para proporcionar excelência aos inúmeros cenários em que não faltam dilemas, desafios e conflitos.
Bioamigo, haverá entre nós brasileiros com direito ao SUS uma consciência coletiva que necessariamente superponha pensamento de médico influenciado pela medicina com viés universal tendendo à homogeneidade e cultura plena de peculiaridades? A resposta é negativa, inclusive porque o Brasil tem grandes diferenças regionais que provocam heterogeneidades nas influências sobre o exercício da medicina.
O cenário típico da captação de informações desde o paciente pelo médico por meio de anamnese, exame físico e exames complementares segundo organização transdisciplinar e do desenvolvimento de conduta numa validação universal exige, comumente, ajustes individuais em meio a circunstâncias físicas e emocionais. Razão para justificar a assertiva que o ecossistema da beira do leito convive com a arte de praticar medicina articulada ao componente atitude da competência (conhecimento, habilidade e atitude).
É inquestionável que apesar do sentido social – universalidade, equidade e integralidade do SUS – a aplicação da medicina corresponde, invariavelmente, a um ser humano cuidando de outro ser humano, novidades da inteligência artificial à parte. Ambivalências e interações resultam pelas relações individuais e coletivas. Vacinação em massa previne atendimentos individuais, não vacinar eleva.
Diretrizes clínicas alinhadas à medicina baseada em evidências dominam a organização de condutas e subentendem que as questões de saúde na sociedade admitem um plural de aspectos clínicos reunidos como doenças. Todavia, mesmos CIDs apresentam diferenças individuais, cada caso tem sua biografia.
Por isso, uma conduta universal fundamentada no estado da arte – conduta recomendável – precisa ser reconhecida como uma conduta aplicável, ou seja, não apresentar contraindicações individuais proibitivas e, a seguir, tornar-se uma conduta consentida pelo paciente – Sim doutor, consinto. É planejamento sob tutela da prudência – escolhas da melhor maneira possível.
O planejamento de tomadas de decisão sobre saúde no ecossistema da beira do leito compreende, pois, uma organização coletiva – identidade da medicina – e duas individuais – identidades corporais e comportamentais da pessoa do paciente, em que concorrem discernimentos, compromissos e assimilações.
As significações que os métodos diagnósticos, terapêuticos e preventivos incorporam-se ao paciente representam si próprio e suas relações com o coletivo da sociedade, numa via de duas direções entre o individual e o coletivo e onde incidem moral, ética e legalidade. Medicina do trabalho, medicina do esporte e medicina do tráfego são ilustrativas.