3911

PUBLICAÇÕES DESDE 2014

1739- Proprietário e visitante (Parte 2)

É assustador para o médico(a) ouvir Doutor, não consinto! Enquanto não treinado para lidar com tal barreira operacional. Dá a terrível sensação de ter ficado agarrado à lâmpada que recém trocara no teto ao perceber que lhe tiraram a escada. E agora? Uma missão da Bioética da Beira do leito é cuidar para a absorção do “sentir-se sem chão”, facilitar a revelação e a compreensão das evidências sobre o que acontece – mas, por favor, sem nenhum entendimento de  “Agora os problemas acabaram!”. Pé no chão! Resgate ao domínio de si.

É de se supor que médicos(as) convivem também  – um dia sim, outro também – com paciente e/ou familiar que seguidamente expressam dúvidas, desconfianças, objeções, assim tornando o clima pesado e a conexão médico⇔paciente desagradável. É o consentimento do paciente constantemente sob judice que faz permanentemente piscante a luz amarela do semáforo da beira do leito. A Bioética da Beira do leito conjectura que  uma das causas de grosserias do paciente é a sensação de perda do controle sobre a própria vida que é assumida pela doença e da qual o médico(a) se torna um malquisto porta-voz, ou seja, não representa rejeição ao profissional.

Neste contexto, a maturidade profissional absorve que eventuais insucessos transitórios da terapêutica não devem provocar ênfase em justificativas relacionadas  “gravidade da sua doença”, mas numa “virada de página” e foco no novo planejamento num equilíbrio entre realismo e otimismo.

Configuram-se disputas de opinião que podem atingir níveis que fazem o médico(a) sentir-se questionado em sua autoridade, inclusive a ponto de perceber-se ambivalente em relação a sua responsabilidade profissional. É muito ruim! Desesperos acontecem associados ao temor de que atualmente os jovens médicos muito se queixam: “Sinto que estou sendo ameaçado de vir a ser processado”. O burnout espreita!

Cada encontro desta natureza estressa não somente pela antecipação como também pelo tipo de diálogo exigido que consome um tempo quantitativo. Geração a geração de médicos desenvolveu-se um estereótipo negativo de paciente/familiar “diferente” com potencial de causar dificuldades, entendendo-se como estereotipagem a percepção de um indivíduo que pertencente a um grupo expressa características peculiares. Médicos típicos irmanados por serem filhos universais do Pai da medicina (Hipócrates, 460 aC-370 aC), cuidando de pacientes atípicos é circunstância que cai nos aspectos indesejados, incômodos do profissionalismo chamados de ossos do ofício.

Um corolário positivo é o de estimular o desenvolvimento de uma reação para reconforto – um instinto de sobrevivência profissional – na figura de um par formado por diálogo qualitativo – seleção “cirúrgica” do ouvir-se ouvir e do ouvir-se dizer – e reforço da real segurança de seus atos, o que significa expressar-se tendo nas entrelinhas o recado de até posso tolerar suas opiniões, mas estou ciente do que faço, a intenção é sempre no sentido da beneficência e, afinal, este território está sob minha consciência, seriedade e competência. O sentido de quem domina o espaço da conexão médico⇔paciente numa consideração qualitativa que, apesar dos pesares, precisa preservar o domínio da comunicação não violenta de Marshall Rosenberg (1934-2015) e um alto nível da humildade relativa do ar.

COMPARTILHE JÁ

Compartilhar no Facebook
Compartilhar no Twitter
Compartilhar no LinkedIn
Compartilhar no Telegram
Compartilhar no WhatsApp
Compartilhar no E-mail

COMENTÁRIOS

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

POSTS SIMILARES

abr0 Posts
maio0 Posts
jun0 Posts
jul0 Posts
ago0 Posts
set0 Posts
out0 Posts
nov0 Posts
dez0 Posts
jan0 Posts
fev0 Posts
mar0 Posts
abr0 Posts
maio0 Posts
jun0 Posts
jul0 Posts
ago0 Posts

abr0 Posts
maio0 Posts
jun0 Posts
jul0 Posts
ago0 Posts
set0 Posts
out0 Posts
nov0 Posts
dez0 Posts
jan0 Posts
fev0 Posts
mar0 Posts
abr0 Posts
maio0 Posts
jun0 Posts
jul0 Posts
ago0 Posts