Orientação é palavra-chave no ecossistema da beira do leito. Seis anos de faculdade de medicina orientam um leigo como se transformar em um médico(a). Desenvolve-se uma dimensão peculiar de relacionamento com tecnociência na área da saúde por um aprendizado diversificado e contínuo que significa armazenamento de conhecimentos e habilidades numa memória profissional cujo continente é infinitamente elástica para abrigar um conteúdo que se espera sempre em expansão, pleno de inclusões que substituem exclusões ou se associam a permanências intactas ou ajustadas pela vivência crítica e ética. Todavia, há “linhos e ceras” sob influências de muitos “calores” em conexões médico-paciente-medicina e sensíveis a vieses de orientação.
Cada caso entre vaivéns de busca de saídas ganha definitivos de momento – por exemplo, a administração de um fármaco – que podem ou não ser definitivos do atendimento e cuja avaliação dos efeitos costuma fundamentar ou um reforço ipsis literis ou algum tipo de variação aperfeiçoadora no próximo caso, assim fazendo com que o foi definitivo de hoje não seja obrigatoriamente um eterno imutável, muito pelo contrário, a experiência faz com que a memória profissional seja permanentemente reorganizada, hierarquias sejam modificadas, a fim de mais adequadamente subsidiar a imaginação que sustenta uma nova tomada de decisão, uma nova aplicação de método, (re)toques que atapetam os caminhos da excelência. Afora, evidentemente, atualizações tecnocientificas validadas por órgãos responsáveis e veiculadas pela literatura especializada. Há sempre um último artigo publicado, uma recente diretriz clínica impactando na memória profissional constituída pela experiência.
Todo médico(a) renasce após cada atendimento, mesmo número de CRM associado a uma identidade profissional sujeita a reciclagens na formação do sujeito médico que se tornam referências da capacitação a cada momento profissional. Ademais, há a aposentadoria por tempo de serviço e há a “aposentadoria” por esgotamento do interesse em estar médico com domínio do estado da arte.
Se o médico(a) existe como um vetor da medicina ou a vivencia como participe generativo, certamente, precisa da Bioética para lidar com desafios, dilemas e conflitos do cotidiano, imprevistos, desconhecimentos, acasos e interpretações enviesadas.
A Bioética articula-se a um modo saudável – moral e econômico – de aplicação de medicina defensiva, especialmente porque preocupa-se com a universalidade, a equidade e a integridade – que são princípios básicos do SUS.
A Bioética intenciona promover a defesa profissional no bom sentido da conscientização e evitação de equívocos, motivos que carecem no tipo de medicina defensiva que exagera na documentação – dispendiosa – e que visa não o acerto propriamente dito, mas preparar-se para eventuais futuros vieses de interpretação acerca da prudência e do zelo.