A Bioética da Beira do leito pega carona na medicina baseada em evidência que considera que o exercício da medicina exige antíteses da indeterminação e controle sobre “aventuras” do imaginário. Por isso, enfatiza o valor da imaginação memória-dependente que cabe, por exemplo, no planejamento do que poderá vir a ser, no retorno à mente de fatos e dados pretéritos e sua aplicação em antevisão sobre potencialidades de resultados.
Cada vez mais a complexidade dos casos e da tecnociência figura o exercício profissional no ecossistema da beira do leito num labirinto e exige que conhecer medicina de verdade é (re)conhecer cada situação do paciente, encontrar caminhos entre desencontros orientado por sintoma, síndrome, fisiopatologia, etiopatogenia, prognóstico, etc…
O desenvolvimento qualificado da conexão médico-paciente que requer convivência com um profissionalismo ajustado a trânsitos por labirintos e vias de saída resolutivas é idealmente guiado por um novelo de fios condutores que inclui e confiança. A confiança do médico(a) em si e a obtida do paciente estão intimamente alinhadas à competência, à integridade e ao respeito, o que reforça que inexiste exercício impessoal da medicina.
O médico, assim que acontece um primeiro contato com o paciente, assume responsabilidade e o que virá pela frente lhe exige domínio de uma memória generosa em quantidade e qualidade do armazenado. A sequência de atendimentos favorece familiarizar-se com as estruturas complexas dos labirintos a que os casos se configuram e que os antigos gostavam de nomear como olho clínico – no sentido de “é por aqui”.
No famoso labirinto de Creta, após Teseu ter matado o Minotauro – corpo de homem e cabeça de touro – que lá vivia, o seu construtor Dédalo deseja fugir junto com o filho Ícaro. Dédalo constrói asas de penas ligadas com linho e cera para ambos e instrui o filho a voar nem muito baixo pelos ventos, nem muito alto pelo calor do sol. Ícaro deslumbrado com sua movimentação aproxima-se muito do sol, a cera derrete-se e com a perda da sustentação precipita-se no mar.
Vale dizer, a desmedida cobra um preço alto. Os componentes do mito servem para alertar o valor do respeito pelo médico(a) a orientações em movimentos por labirintos e nos que utiliza recursos para ampliar capacidades, inclusive porque o deslocamento se faz acompanhado do paciente pelo qual tem responsabilidade. Salvaguardas orientadoras como o fio de Ariadne são de alta presteza na beira do leito, a Bioética um prestativo representante.