O fio de Ariadne constante na mitologia grega que ajudou Teseu a retornar do labirinto em Creta simboliza o valor da disponibilidade de acontecidos passados em forma de memória para nos manter ligados de alguma forma à realidade e assim nos capacitar a vivenciá-los novamente. A Bioética da Beira do leito inclui em suas metáforas úteis para o exercício da atividade profissional no âmbito da medicina firmemente alinhado à conscientização ética.
A atividade é complexa e cheia de sutilezas, a rotina ameniza sem levar para o superficialismo, o comprometimento dia-a-dia facilita acumular um patrimônio de experiências propositivas e revisoras dentro dos limites humanos. As configurações saúde-doença são infinitas e combinações de métodos diagnósticos, terapêuticos e preventivos aplicáveis sob forte controle ético, moral e legal objetivam atender a necessidades do corpo e da mente. Eis um esboço do ser/estar/ficar médico(a) e seu pertencimento ao ecossistema da beira do leito.
De maneira simplista, no ecossistema da beira do leito há o médico e há o paciente conectados com bióticos (multiprofissionais) e abióticos (fármacos, instrumentos, máquinas, etc…) em nome da medicina, das ciências da saúde em geral e de um multidimensional sistema de saúde.
Inúmeros movimentos acontecem de forma eletiva, urgente ou em emergência e suas decorrências são recolhidas com a pazinha do interesse, armazenadas de modo estruturado e evocadas como memórias-guias, a essencial participação do cognitivo na continuidade passado-presente-futuro que permeia o profissionalismo. Todo cuidado médico com o próximo paciente inclui, invariavelmente, uma filtragem de saberes e sabedoria do caso prévio e, assim, caminha a competência profissional.
Um processo ininterrupto de ensino e aprendizagem em que o médico(a) é um eterno discente articulado a “textos e contextos” docentes presentes em “mestres” pacientes. Relato de caso, discussão de caso, reunião anátomo-clínica são criações clássicas motivadas pela imperiosidade de esclarecer/aprender com o mundo real das configurações saúde-doença.
A memória profissional permite reviver imagens do passado e imaginá-las reproduzidas no futuro, num pulo do ontem para o amanhã que favorece lidar com o hoje. É a pre-visão que embasa indicações, contraindicações e não indicações de métodos no intuito do melhor prognóstico/interesse do paciente.