3898

PUBLICAÇÕES DESDE 2014

1726- Atencioso

Todos os médicos éticos são semelhantes, cada médico antiético é a sua maneira. Todos os médicos que agradam os pacientes são semelhantes, cada médico que desagrada é a sua maneira. Todos os médicos competentes são semelhantes, cada médico incompetente é a sua maneira.

Certamente, antiéticos e/ou incompetentes geram desagrado, mas há médicos éticos e competentes que desagradam os pacientes, cada um a sua maneira, a mais comum relacionada à como ele se porta, como se comunica, como demonstra dedicação, o quanto é educado, atencioso, mais do que um simples técnico portador de ferramentas apropriadas.

Cabe a aplicação na beira do leito, neste contexto, do clássico  “A mulher de César deve estar acima de qualquer suspeita,  não basta ser honesta, deve parecer honesta”. A transmissão de uma impressão positiva que fala por si , que faz prever que haverá uma conexão ao agrado.

Há décadas observo os jovens médicos fazendo primeiras abordagens com paciente, o atendimento em Pronto Socorro é bem ilustrativo. Em geral, existe um paciente assustado com o motivo da procura por médico e, ao achar o médico, pretende contar com um “técnico humano”.

O atendimento pode ser desdobrado em várias fases, pode exigir inicial alta hierarquização técnica para controle da situação clínica, decisões urgentes, encaminhamentos precisos em que o aspecto humano não pode ser desprezado, demanda um mínimo, mas fica num plano inferior em função urgência técnica.

Mais cedo ou mais tarde, a fase humana adquire mais importância, mais cedo em casos mais simples, onde o atendimento diz respeito mais ao diagnóstico, por exemplo, ou após controle da dor.

É habitual que o médico num Pronto Socorro corra de um caso para outro em função das exigências e priorize sua localização e atenção pela gravidade. Mas, mesmo atarefadíssimo, ele deve dar uma passadinha que seja pelo paciente que já não demanda tanta preocupação. Não porque eticamente esta atenção precisa ser reconhecida pelo paciente, mas por uma questão própria, por um compromisso consigo de ser/estar/ficar um médico atencioso e  que deve parecer atencioso. A fidelidade do paciente a ele cresce. São poucos minutos, palavras simples, expressão corporal empática, que valem muito.

Reduz a sensação de desamparo que muitos pacientes têm quando apesar de cuidados, com o que precisa providenciado,  se veem longe de um amparo em função de um silêncio que, por mais que se saiba que resulta de diálogos com outros pacientes mais agudos, se revertido tem alto significado humano. Evita o paciente preencher o silêncio com imaginação nem sempre otimista e muitas vezes sofrida.

Por anos, trabalhei em Pronto Socorro e UTI. O habitual é “passar o plantão” ao colega e ir embora. Conheci um médico mais velho embora formado mais recentemente. Ele fazia um ritual antes de ir embora, despedia-se de cada paciente que atendera no plantão. Com certeza, além de atencioso, parecia ser atencioso. Um exemplo que se articula com a missão da Bioética da Beira do leito!

COMPARTILHE JÁ

Compartilhar no Facebook
Compartilhar no Twitter
Compartilhar no LinkedIn
Compartilhar no Telegram
Compartilhar no WhatsApp
Compartilhar no E-mail

COMENTÁRIOS

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

POSTS SIMILARES

abr0 Posts
maio0 Posts
jun0 Posts
jul0 Posts
ago0 Posts
set0 Posts
out0 Posts
nov0 Posts
dez0 Posts
jan0 Posts
fev0 Posts
mar0 Posts
abr0 Posts
maio0 Posts
jun0 Posts
jul0 Posts
ago0 Posts

abr0 Posts
maio0 Posts
jun0 Posts
jul0 Posts
ago0 Posts
set0 Posts
out0 Posts
nov0 Posts
dez0 Posts
jan0 Posts
fev0 Posts
mar0 Posts
abr0 Posts
maio0 Posts
jun0 Posts
jul0 Posts
ago0 Posts